Direção: Kenneth Branagh
Toda menina sonha em ser Cinderela. E por
que?
Creio que o conto, muito antigo, cuja versão mais
conhecida é a do francês Charles Perrault de 1697 (mas existe desde a antiga
China de 860 AC), revela um desejo muito profundo da natureza humana. Tanto
Cinderela como o príncipe querem encontrar uma alma gêmea, fazer par, como a
natureza ensina através de um instinto muito forte, para a continuação da
espécie.
Mas outras lições, necessárias para a evolução do
espírito, aparecem no conto e não foram esquecidas por essa cuidadosa produção
dos estúdios Disney.
Na década dos anos 50 do século passado, a minha geração
foi levada por suas mães ao cinema para ver a animação da Disney de 1950.
Saíamos encantadas, cantando as músicas, dubladas para o português.
E, em nossas brincadeiras, o vestido azul, peça
fundamental, não precisava de outros adereços. Cinderela era bela porque era boa
e gentil, gostava dos animais e tratava bem as pessoas à sua volta. Sabia lidar
com a inveja e era bem humorada e romântica.
Apesar de orfã (e com ela chorávamos a perda da mãe e
pai), não se lamentava o tempo todo e trabalho não era castigo para
ela.
Seu amor pelos animais e pela natureza faziam dela uma
precursora da mente ecológica, tão importante para o planeta em que
vivemos.
E essa continua sendo a Cinderela do diretor britânico
Kenneth Branagh. Um acerto.
As cenas que abrem o filme atual são quadros
impressionistas. Os cenários reais e os detalhes das imagens são tantos, que
nossa vista não abarca tudo que aparece na tela na bela fotografia de Haris
Zambarloukos. Há uma contemplação de maravilhosos voos sobre palácios, muros e
jardins.
A direção de arte do talentosíssimo Dante Ferretti é
deslumbrante e os figurinos de Sandy Powell, perfeitos e
originais.
Cate Blanchett como a madrasta má, empresta sofisticação
e inteligência à megera e sua magnífica presença em tons de verde absinto é uma
deliciosa aparição ruiva, com chapéus saídos do chá das cinco de “Alice no País
das Maravilhas”.
As irmãs postiças desfilam figurinos “kitsch” e são
atrapalhadas na medida certa.
E Cinderela, na pele da britânica Lily James (lady Rose
de “Downton Abbey”), é a personificação perfeita da personagem. Nem linda
demais, nem exibida, ela irradia juventude e graça.
Os efeitos especiais nos momentos mágicos com a fada
madrinha (Helena Bonham Carter, ótima), são divertidos e surpreendentes. Kenneth
Branagh brinca com os ratinhos, os lagartos e a abóbora e a magia brilha na tela
com leveza.
E “coragem e gentileza”, o lema de Cinderela, não
poderia ser mais oportuno para os dias de hoje.
Corram para ver “Cinderela” e voltem para casa um pouco
mais esperançosos com a humanidade. Precisamos tanto de
sonhos...
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