“O Sal da Terra”- “Le Sel de la Terre”, França, Itália,
2014
Direção: Wim Wenders e Juliano Ribeiro
Salgado
O documentário começa com a voz de Wim Wenders definindo
o que é um fotógrafo, já que vamos ouvir falar de um deles, o famoso Sebastião
Salgado, 72 anos. Então a palavra que junta luz e desenho, trata de alguém que
“escreve e reescreve o mundo em luz e sombras”, diz um dos diretores, o grande
cineasta de “Asas do Desejo” de 1987 e de “Pina” 2011.
Wenders conta que foi há 20 anos que viu uma foto de
Sebastião Salgado que o fez chorar: a tuaregue cega. Logo, ele entendeu que as
pessoas eram importantes para o fotógrafo. E conclui “afinal, elas são o sal da
terra.”
E a câmera do alemão foca no rosto do seu fotógrafo, de
quem ele vai ouvir histórias sobre sua vida e suas fotos. E o faz com ternura,
sem pressa, deixando que ele fale num francês com sotaque
mineiro.
Rosto de pele queimada de sol, olhos claros, cabeça
pelada, sobrancelhas brancas e abundantes. Olhar
sereno:
“- Não é só o fotógrafo que tira a foto. A pessoa dá a
foto para o fotógrafo.”
E vamos ver desfilar um universo: pessoas ambiciosas,
com “o vício do ouro”, como as de Serra Pelada, aborígenes da Indonésia, o povo
sofrido do Nordeste do Brasil no século passado, aqueles que habitam os Andes há
milênios, índios mexicanos, o povo de Sahel, refugiados da África, os Médicos
sem Fronteiras, os bombeiros de Calgary, os mortos de Rwanda, um genocídio no
Congo, a guerra cruel na Croácia, Bósnia e Sérvia, no fim do século
XX.
“- O inferno tinha tomado conta do paraíso”, diz Salgado
que confessa que, na África, tinha que colocar sua máquina no chão da estrada
para poder chorar.
“- Nós somos um animal terrível... Extremamente
violentos.”
Voltou de lá com a alma doente.
“- Sebastião tinha visto o coração das trevas”, emenda
Wim Wenders.
E o outro diretor Juliano Ribeiro Salgado, o filho que
reencontrou o pai, conta e mostra a Fazenda Salgado em Minas, onde o pai nasceu
e do projeto de recuperação da Mata Atlântica, o Instituto Terra, ideia da mãe.
Um milagre.
E o fotógrafo reencontra o prazer de fotografar com o
seu projeto “Genesis” (2003-2004).
“- Quis fazer uma homenagem ao
planeta.”
E imagens deslumbrantes e tocantes mostram a pata da
iguana e a tartaruga de Galápagos, as focas, leões marinhos, flores, ilhas,
mares, elefantes, gorilas, uma baleia amiga, icebergs, os “nenets” e suas renas
e na Amazonia, os índios descritos pelos jesuítas.
“- Genesis ia ser uma carta de amor ao planeta. Seu
“opus magno”,” pontua Wenders.
E a lição maior de “O Sal da Terra”: em qualquer lugar,
a terra destruída pode virar florestas.
O documentário foi indicado ao Oscar 2015. Não ganhou
mas o público desfruta do privilégio de conhecer de perto Sebastião Salgado,
brasileiro de dar orgulho na gente.
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