Direção: Lenny Abrahamson
Parece incrível, mas é verdade. Existiu um músico inglês
“cult”, “punk-rocker” e comediante, que o público conhecia como Frank
Sidebotton, que usava uma cabeça imensa de “papier-maché”, com enormes olhos
azuis arregalados, cabelo pintado de preto e boca vermelha. Seu nome era Chris
Sievey (1955-2010). Jon Ronson, que o conheceu, co-escreveu com Peter Straughan
o roteiro do filme de Lenny Abrahamson.
“Frank” usa esse personagem para montar uma fábula que
trata sobre temas como arte, originalidade, enganação, doença mental,
megalomania, depressão, perversão. Tudo sem muita profundidade e sem respostas
cabais para nada. O tom é o de uma comédia com tintas de
tragédia.
Talvez Frank use aquela cabeça enorme porque tem medo de
ser ele mesmo, uma nulidade. Todos usamos máscaras sociais mas Frank é o auge
disso. Claro que ele é psicótico e o filme o cerca de tantos personagens malucos
que formam a banda, que Frank é disputado por todos eles. Todos querem o amor de
Frank. No fundo todos querem ser como ele, o líder, o admirado, o que canta, o
que compõe. Mas alguém sabe quem é Frank na verdade?
No fundo, ele é um grande manipulador. E quer ser um
ídolo, apesar de inicialmente não admitir isso. E torna-se um elemento
enlouquecedor por causa dessas mensagens
contraditórias.
Michael Fassbender interpreta Frank de maneira genial.
Modula a voz e sua expressão corporal é tão boa, que ele não precisa do rosto
para passar o que personagem pensa. Ginga o corpo, usa os braços e as mãos de
forma eloquente, como só um grande ator, que ele é, consegue
fazer.
O resto da banda serve para ilustrar outros tipos de
seres humanos surtados, manipulados por Frank. Um jogo perigoso, que se torna
mortal.
Assim, Jon (Domhnall Gleeson) é o que conta a história
toda e entra na banda por acaso porque o tecladista tentou o suicídio. Ele é
catapultado da casa dos pais e um emprego burocrático para viver com Frank e o
resto da banda no campo, onde irão gravar o disco fundamental. Tem também o
gerente Don (Scoot McNairy), a percussionista Nana (Carla Azar), o francês do
baixo, Baraque (François Civil) e a siderada por Frank e ciumenta Clara (Maggie
Gyllenhaal).
Mas “Frank” é para poucos, apesar do sucesso que fez nos
festivais de filmes independentes. Ou até por causa disso mesmo. Diferente de
tudo que se vê, não se pode negar originalidade ao diretor irlandês. E tem
Michael Fassbender. Não se esqueçam
disso.