Direção: Roberto Andò
Nas antigas fábulas, encontramos histórias de pessoas
que trocam de identidade, como aquela chamada “O Príncipe e o Mendigo”, que virou romance de
Mark Twain (1835-1910).
No filme “Viva a Liberdade”, dirigido por Roberto Andò e
baseado em seu livro “O Trono Vazio”, a história envolve esse mesmo tema mas
aqui são irmãos gêmeos que trocam de lugar e identidade. Um é político famoso, o
outro, filósofo, diagnosticado como psicótico.
Quando o secretário do partido de esquerda de oposição
ao governo italiano, o senador Enrico Olivieri, vê-se no último lugar das
pesquisas sobre os candidatos à próxima eleição para a presidência do país, ele
entra em crise.
Deprimido, não consegue enxergar uma saída dessa
situação humilhante. Além do público, o partido está claramente insatisfeito com
o seu desempenho.
O que fazer? Ele foge para Paris, incógnito e vai passar
uns tempos na casa de uma amiga da juventude, Danielle (Valeria Bruni Tedeschi),
casada com um cineasta vietnamita.
Seu assessor, Andrea (Valerio Mastrandia), da noite para
o dia, vê-se às voltas com esse problemão.
O que fazer? Ele então tem uma ideia que parece
brilhante. Acontece que o senador Enrico tem um irmão gêmeo, Giovanni, filósofo,
culto mas que acaba de sair de um hospital psiquiátrico.
Apresentado à ideia de trocar de lugar com o irmão, está
pronto a colaborar. Em silêncio, porém, acrescenta o assessor. E, em total
segredo.
Por um descuido do assessor, a imprensa, que tinha sido
notificada da licença que o senador pedira, fica sabendo que ele está de volta e
muito mudado.
Em uma entrevista exclusiva, o repórter
pergunta:
“- Senador, o senhor está diferente. Seus cabelos estão
grisalhos...”
“- Isso mesmo. Não pinto mais. E isso é um conselho aos
italianos. Parem de se enganar. Se os políticos são medíocres, é porque os
eleitores são também medíocres. Se são ladrões, é porque seus eleitores são
também ladrões. Há sempre um momento na vida de um poderoso onde ele pode ser
crucificado. O medo é a música da democracia!”
Entre feliz e amedrontado com o que ouvira, anota tudo e
comenta com o assessor, que deixara Giovanni sózinho no restaurante e agora
volta, apavorado com o que ouve:
“- Parece outro...Essa entrevista vai ser uma
bomba!”
Anna (Michela Cescon), a mulher do senador Enrico, se
assusta com a ideia do assessor:
“- Mas você está colocando o partido nas mãos de um
louco!”
E claro que tudo muda. O “louco”, citando poetas e
filósofos e com um discurso que soa sincero e corajoso aos ouvidos de um público
ávido por uma liderança otimista, é ovacionado por onde
passa.
Toni Servillo faz os dois papéis com todo o talento e
humor que o roteiro pede.
É a melhor coisa do filme. Ele cria uma postura e um
rosto diferente para cada um dos irmãos e, com tal maestria, que sempre podemos
dizer quando é um e quando é o outro que está na tela.
O filme é divertido e atual mas o ator é
genial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário