Direção: Atiq Rahimi
Conta uma velha lenda afegã que, se alguém encontrar uma
pedra mágica e, se esse alguém contar para ela todos os seus sofrimentos e
segredos, a pedra vai escutar. E, um dia, arrebentará. Vai desfazer-se em
pedacinhos. E, nesse dia, quem a encontrou e falou com a pedra, vai se libertar
de todas as suas dores.
Presa da guerra na qual seu marido foi ferido com uma
bala na nuca e, desde então dependente dela, já que seu estado é vegetativo,
aquela jovem e bela mulher está sempre a seu lado, na casa humilde, igual às
outras, num quarteirão da cidade semi-destruída.
No Afeganistão (imagina o espectador, já que o lugar não
é nunca nomeado), agora são as milícias armadas de metralhadoras, tanques e
bombas que amedrontam a população, que foge de suas
casas.
Ela não pode sair de perto dele. Mas leva suas duas
filhas para a casa da tia, que virou prostituta, depois de ser repudiada pelo
marido por ser estéril.
A sobrinha e a tia são mulheres que não tem voz, num
lugar onde mandam os homens, que tem direitos até sobre a vida delas. Casam-se
muito jovens, com homens mais velhos, escolhidos por seus pais e vão morar na
casa dos pais dele. Se não conseguirem ter filhos, seus maridos pegam uma
segunda mulher e elas são abandonadas ou servem como criadas na casa da
sogra.
Vamos ser as únicas testemunhas do longo monólogo que a
mulher sem nome vai entoar, dirigindo-se ao marido que está de olhos fechados.
Sua respiração é o seu único sinal vital.
Quando ela sai, coloca a burca amarela e esgueira-se
entre os escombros para comprar soro e colírio para o marido ou visitar as
filhas na casa da tia.
A jovem tem um belo rosto, olhos tristes e uma boca que
nunca sorri.
A bela e talentosa Golshifteh Farahani, a mais famosa
atriz iraniana, de 31 anos, vive fora de seu país, onde moram seus pais e para
onde pensa nunca mais voltar. Ela mora em Paris, por quatro anos já no exílio e
filma nos Estados Unidos e na Europa. Ganhou fama com o filme do premiado
diretor iraniano de “Separação”, de 2009, “Procurando
Elly”.
Em “A Pedra de Paciência” ela faz essa mulher que,
cansada de rezar pela recuperação do marido inconsciente, como manda o mulá,
inicia uma conversa com ele, onde fala de seus sofrimentos com a brutalidade
dele e de seus segredos mais íntimos. Abre sua alma e seu corpo. Ele vira a
pedra de paciência dela.
O filme é baseado no romance que o diretor afegão Atiq
Rahimi, de 52 anos, escreveu. Ele nasceu em Cabul mas vive há tempo em Paris e
ganhou o Goncourt, o mais famoso prêmio de literatura da França, em 2008, por “A
Pedra de Paciência”.
O roteiro do filme foi escrito por Rahimi em parceria
com Jean-Claude Carrière, 82 anos, que foi colaborador de Luis
Bunuel.
“A Pedra de Paciência” é um filme que marca por causa de sua tristeza e beleza
comoventes.
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