Direção: Nicole Garcia
O que são aquelas pessoas dormindo no chão, ao lado de
cachorros? Quando chega a polícia, são arrastados para fora. Sem teto?
Invasores?
Mas, quando a cena seguinte do sétimo longa da diretora
francesa Nicole Garcia mostra uma escola, a pergunta fica no ar e nos esquecemos
da cena inicial, para só nos lembrarmos dela quase no fim do
filme.
E já nos concentramos na história do professor Baptiste
(Pierre Rochefort, filho da diretora, em seu primeiro papel no cinema), que tem
um lugar de professor temporário naquela escola e não aceita o convite para ser
efetivado. Por que ele foge de um lugar fixo? Estranha
recusa...
Mas então aparece Mathias (Mathias Brezot) que o pai
esqueceu de buscar no colégio e aceita a carona do
professor.
O pai de Mathias (Olivier Loustaut), rico e entretido
com a namorada e a viagem para Monte Carlo no fim de semana, esqueceu de pegar o
filho. Parece dividido entre a moça zangada e o menino que o olha com velada
censura. Até que o professor vem em sua ajuda:
“- Posso ficar com Mathias”, diz Baptiste.
“- Mas você não tem família, namorada? Bom, vou te dar
30 Euros, então.”
“- Não precisa.”
“- Acho que já nos conhecemos” responde o
pai.
“- Você me deu uma carona. Eu vinha de uma
conferência...”
“- Astrofísica, não é mesmo?”
Mas já vai atrás do filho para explicar a situação.
E lá vão os dois de novo na lambreta do professor.
Ele instala Mathias no sofá do pequeno
apartamento.
“- Podemos ir à praia amanhã?”
“- Não sou seu chofer.”
E Baptiste recebe o baseado que seu fornecedor vem
entregar, disfarçando que é um DVD. Vai para o quarto e antes, manda o menino
dormir.
Dia seguinte, os dois na lambreta, rumo à
praia.
Mathias escolhe um lugar mais longe para o banho de mar.
E lá encontram a mãe dele, a bela Sandra (Louise Bourgon), que trabalha num
restaurante na praia e parece ter uma ligação com o dono, um sujeito mais velho,
com uma corrente de ouro no pescoço.
A partir daí, esses três destinos se cruzam de maneira
irremediável.
Baptiste vai ter que encarar o seu passado misterioso
para poder ajudar Sandra, metida com agiotas perigosos. E Mathias vai conseguir
a atenção da mãe e o seu carinho. Não foi à toa que escolheu a praia onde a mãe
trabalha como destino do seu passeio com o professor.
E o belo domingo?
Vamos viajar com esses personagens até os Pirineus, na
região da França próxima à Espanha, onde numa mansão senhorial, rodeada de
bosques, rio, jardins, piscina, quadras de tênis, Baptiste vai reencontrar sua
família, que não vê há muito tempo, num
almoço de domingo.
Essa é a ocasião para o espectador que conhece e o que
não conhece, admirar a atuação da matriarca desse clã aristocrata, a lendária
Dominique Sanda, 66 anos, que atuou em grandes filmes de Bertolucci (“1900”1976,
“O Conformista”1970), Vittorio De Sica (“O Jardim dos Finzi-Contini”1970) e
Visconti (“Violência e Paixão”1974).
A escolha desse mito do cinema, é outro acerto da
diretora e roteirista de “Um Belo Domingo” que tem 68 anos, nasceu na Argélia e
foi atriz do célebre filme do diretor Alain Resnais, “Meu Tio da
América”1980.
Este sétimo longa dela traz à tona temas como a solidão,
a loucura, a paternidade e a maternidade, dinheiro e classe social e escolhas de
vida.
É, no mínimo, um filme
interessante.
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