Direção: Tran Anh Hung
Melancolia e beleza delicada são traços presentes na
cultura japonesa. Como coadjuvantes, a culpa e a vergonha engendram dramas onde
a morte é a única solução. Nesse enredo, amores são
impossíveis.
O franco-vietnamita Tran Ahn Hung fez um filme belo e
triste que alguns vão achar que é muito lento. É preciso paciência para apreciar
“Como na Canção dos Beatles”.
E é bom lembrar que esse cineasta de 54 anos concorreu
ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 1993, com seu primeiro longa, “O Cheiro
de Papaia Verde”.
Por mais que nos queiramos distanciar da trama desse
filme de 2010, ela nos arrasta, junto aos personagens. A música de violinos que
choram e as paisagens bucólicas de uma natureza impassível perante o sofrimento
humano, ajudam a pintar o quadro poético de um
melodrama.
É 1967 num Japão onde estudantes saem às ruas para
protestar contra a guerra do Vietnam. Mas Toru Watanabe (Kenichi Matsuyama) tem
20 anos e não se interessa por política e passeatas. Gosta de garotas. Só que
quando chega o amor, o roteiro é pesado.
Watanabe ama Naoko (Rinko Kikuchi) mas um terrível
acontecimento os separa. Tentam ficar juntos, Naoko perde a virgindade no seu
vigésimo aniversário mas o segredo do passado paralisa os dois jovens
amantes.
Eles habitam um exílio da vida e há um namoro com a
morte, seduzidos pelo suicídio de Kisuki (Kengo Kora), ex namorado de Naoko e
amigo de Watanabe.
É quase como se os dois contemplassem o abismo e se
deixassem cair, lentamente, levados pela vertigem da
melancolia.
Seja verão e as colinas estejam verdes, seja inverno e a
neve os abrigue como um cobertor macio, eles tentam fugir do fantasma do amigo,
torturados.
Naoko afunda na loucura enquanto Watanabe tenta
libertar-se do apelo da morte.
Quando aparece Midori (Kiko Mizuhara) em sua vida,
Watanabe sente-se atraído por ela, mais leve e coquete, mas ela também tem dores
ocultas e um namorado.
O filme é uma adaptação do primeiro livro do famoso
escritor japonês Haruki Murakami, de 1987, que dizem ser
auto-biográfico.
A fotografia do filme, de Ping Bin Lee que fez “Amor à
Flor da Pele” de Wong Kar-wai, é deslumbrante em cores frias. E a música de
Jonny Greenwood faz o clima adensar-se mais e mais, até ficar
sufocante.
A triste canção do título toca no final desse filme que
tem uma poesia e beleza geladas e nos recordamos também de nossas dores de
amores. Afinal quem as desconhece?
“Quando eu acordei, estava
sózinho
O pássaro tinha voado.” (“Norwegian Wood” de Lennon-McCartney
1965)
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