Direção: Ritesh Batra
Quem conhece Mumbai na India, não se espanta com a
imagem de trens apinhados que combina com a outra do telhado coalhado de pombos.
Nas ruas, a multidão fervilha no meio de um trânsito caótico de carros,
bicicletas, motos, “tuc-tucs”, carroças e sabe-se lá o que
mais.
Ninguém diria que é possível haver solidão nessa cidade.
Mas sim, existe.
O viúvo Saajan Fernandes (Irrfan Khan de “As Aventuras
de Pi”) segue uma rotina solitária, da casa para o trabalho e daí para casa de
novo. Ele não é um velho mas já passou da meia-idade e está perto de
aposentar-se. Planeja retirar-se para o campo.
Seu rosto inexpressivo, sua vida monótona e a ausência
de sonhos, parecem imutáveis nesse personagem da grande cidade, até que um erro
impensável coloca tempero em sua vida.
O serviço de entrega de marmitas de Mumbai é muito
conhecido e respeitado. Já foi até motivo de estudo da Universidade de Harvard.
Seus 5.000 entregadores, que levam e trazem de volta o alimento dos que
trabalham nos escritórios do governo e de empresas, nunca se
enganam.
Mas, como toda regra tem exceção, a marmita preparada
com esmero por Ila (Nimrat Kaur), uma bonita indiana que teme que seu marido
Rajeev esteja se afastando dela, vai parar na mesa de
Saajan.
Na hora do almoço, no refeitório, quando abre a marmita,
os olhos de Saajan arregalam-se enquanto um cheiro delicioso vem das panelinhas
empilhadas. Come rezando.
E Ila, quando vê a marmita vazia voltar, grita na janela
para sua tia:
“- Tia! Está totalmente vazia! Parece que ele
lambeu!”
“- Eu não falei? Seus quitutes vão trazê-lo de
volta!”
Mas à noite, quando Rajeev chega com o mesmo
comportamento distante e nada de falar da comida dela, ela
pergunta:
“- E o almoço?”
“- A couve-flor estava boa.”
Decepção. Grita Ila na janela:
“- Tia! A marmita foi para
outro...”
Claro, não tinha couve-flor na marmita
dela.
E o próximo passo é Ilia escrever um bilhete para o
apreciador de sua comida:
“Obrigada por devolver a marmita
vazia.”
E começa assim, uma troca de cartas, sempre escondidas
na marmita.
Na vida de Saajan e Ilia, algo de novo acontece. Essa
amizade epistolar vai mudar a vida deles.
O diretor estreante, Ritesh Batra, acerta no tom da
história principal e também na do substituto de Saajan, o jovem Shaik
(Nawazuddin Siddiqui), o divertido orfão que vai ser treinado para substituir o
aposentado.
Solidão, envelhecimento, rejeição, amizade,
solidariedade, temas tratados com delicadeza em “Lunchbox” fazem desse filme uma
surpresa agradável para quem pensa que indianos só produzem filmes tipo
Bollywood, com cantorias, danças e heróis mitológicos.
“Lunchbox” é simples e
universal.
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