“A Gaiola Dourada”- Idem, Portugal/França,
2012
Direção: Ruben Alves
Maria e José são portugueses que imigraram para a França
e se instalaram em Paris em 1979. Bons trabalhadores, fama desses estrangeiros
cuja presença é sinal de dedicação e carinho no que fazem, tornam-se
indispensáveis para seus patrões.
Os moradores do prédio de classe média alta em que
trabalham como zeladores, sentem-se recompensados e sortudos por contarem com a
família Ribeiro, na figura onipresente de Maria, principalmente (Rita
Blanco).
Ela vai desde cuidar das crianças gêmeas que viu nascer,
até ajudar Mme Reichert na confecção de um jardim primoroso, forte candidato num
concurso de jardinagem.
Maria não se poupa e trabalha mais do que o esperado,
não deixando os bonsais de M. Zu descuidados quando ele viaja e passando a ferro
com delicadeza as roupas mais finas que Mme Reichert não se atreve a entregar a
tintureiros.
José (Joaquim de Almeida), por sua vez, é mestre de
obras de uma construtora, há mais de 30 anos, onde exerce sua arte de pedreiro e
cuida que os outros empregados, quase todos portugueses como ele, cumpram os
horários e as normas de segurança, evitando pesadas multas. Na verdade, é o
faz-tudo da empresa.
Os filhos Pedro e Paula nasceram na França mas a cultura
portuguesa faz parte de seu dia a dia.
Ruben Alves, português que mora na França há 40 anos,
dedicou esse seu primeiro filme a seus pais. E acertou em cheio. “A Gaiola
Dourada” é entretenimento de qualidade, divertido e cheio de
quiproquós.
O fato é que o casal português não se dá conta de que
são explorados por causa de sua boa fé e empenho em agradar. Os filhos são os
primeiros e os únicos a falar nisso, porque os patrões deles estão bem contentes
com a dedicação 24 horas por dia.
Mas a coisa muda de uma hora para a
outra.
José e Maria que não pensavam em Portugal, recebem uma
herança inesperada com a condição de que se mudem para lá. São vinhas de um bom
Porto e uma bela casa, construida pelo pai de José, com sua
ajuda.
E o conflito se instala no coração dos bons
portugueses.
Sonham com a “terrinha” mas a família está em Paris, bem
adaptada e os patrões acordam para a desgraça de perdê-los e os enchem de mimos
e substancial aumento de salários, quando a notícia transpira. Ainda por cima,
os filhos não querem ir com eles. O que fazer?
O uso de canções portuguesas, o fado, a cozinha onde
impera o bacalhau, o jeito comunicativo e humilde dos imigrantes, são o pano de
fundo para o desenrolar dessa comédia simpática, que não quer ditar moral para
ninguém nem discutir sobre classes sociais.
Cabe ao espectador notar os detalhes e fazer as
reflexões. E rir muito com o jeitão simples de falar palavrões e contar
histórias que os portugueses tem, em contraste com os franceses tão diferentes
deles, menos comunicativos mas que sabem o que é bom para
eles.
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