Direção: Benedek
Fliegauf
Logo no início somos
avisados. Na Hungria, em 2008 e 2009, ocorreram assassinatos de ciganos.
Famílias inteiras dizimadas. Mas não vamos ver um documentário. “Apenas o Vento”
é um filme de ficção, baseado em fatos reais. O diretor húngaro Benedek Fliegauf
também escreveu o roteiro e seu filme ganhou o Urso de Prata no Festival de
Berlim.
Um dia nasce. O sol por
trás das árvores começa a aquecer a terra. Muitas moscas voam em meio a
lixo.
Um menino com o torso nu
e o rosto sombrio, escuta pessoas cantando um lamento:
“Eles mataram seu
pai
Esconderam sua
cova
Seu coração está
enterrado
Debaixo das
pedras.”
Dentro daquela casa tudo
está escuro. Vagamente percebemos pessoas deitadas numa cama.
Amontoados.
De repente, uma mulher
afasta com delicadeza uma perna de criança pousada em cima da dela. Levanta-se,
prepara um prato e alimenta um velho, seu pai.
“- Volto à noite”,
avisa.
Duas outras crianças,
adolescentes, vão também se levantar daquela cama.
A família de ciganos mora
em um casebre junto a outros, na borda de uma floresta.
A mãe tem dois empregos.
Seu rosto determinado e duro, responde às agressões que sofre durante o dia com
silêncio e olhos baixos.
A mocinha vai à escola e
também passa por perseguição. Mas ela é a personagem mais amorosa. Conversa no
computador da escola com o pai. A esperança é ir encontrá-lo no
Canadá.
“- A família Lakatos foi
morta. Destroçados com uma escopeta. Papai, você deveria voltar para
casa.”
“- Vocês todos vão vir
para Toronto quando sua mãe conseguir o dinheiro. Não se preocupe. Fiquem juntos
à noite. Tranca a porta e as janelas.”
Ela desenha bem e promete
fazer um bem bonito para as mocinhas de batom preto levar para o
tatuador.
Voltando para casa
encontra a menina, filha da vizinha drogada e leva ela para um banho no rio.
Colhem flores no campo e ela coloca uma coroa na cabecinha da pequena. É o único
momento doce e belo do filme.
O irmão dela, Rió, não
vai à escola. Perambula pela floresta. Vasculha lixo e casebres abandonados.
Abastece seu esconderijo. Fareja o ódio. Parece que sabe que chegou o
dia.
A câmara gruda quase o
tempo todo nos personagens e isso nos angustia. É anti-natural essa invasão do
espaço íntimo de um ser humano. A tentação de ir embora do cinema, para não ver
o que vai acontecer, é grande.
Quem fica, sofre com o
drama daquela família que representa as outras todas que morreram.
A “limpeza” étnica no
Leste europeu assusta e mostra para onde pode caminhar a humanidade, se não
estivermos atentos.
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