sexta-feira, 5 de julho de 2013

A Espuma dos Dias




“A Espuma dos Dias”-“L’Écume des Jours”, França, 2013
Direção: Michel Gondry

Se você acha graça na criação de um universo surrealista onde pernas de mesa usam patins, a comida se mexe no prato onde é servida, alguém apara as pálpebras com tesoura porque cresceram demais, um rato mora em seu buraco que é igual ao apartamento do dono da casa, visita-se Paris em uma nuvem artificial e coisas assim, então você vai se encantar com o mundo de Boris Vian (1920-1959), escritor do livro que deu origem a esse filme, e que era engenheiro, escritor, poeta e amante do jazz. Tocava numa banda no famoso “Le Tabou” e lançou Juliette Grecco, a musa do existencialismo.
Talvez, para gostar desse filme, você tenha que abrir mão do que está acostumado a ver: um faz-de-conta que quer parecer real. Porque em “A Espuma do Dias”, o diretor Michel Gondry (que fez nos Estados Unidos “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” de 2004), quer que as coisas malucas da cabeça de Boris Vian possam se materializar como coisas loucas mesmo. Estamos num mundo onde tudo é possível.
Fala-se de amor, vida e morte, política, filosofia, religião, poesia mas de uma maneira diferente à que estamos habituados.
O herói é Colin (Romain Duris) que vive num apartamento onde tudo foge à lógica da razão. Seu cozinheiro e conselheiro é Nicolas (o talentoso ator Omar Sy de “Intocáveis”) que prepara as tais comidas vivas e que conversa com um chef que às vezes está dentro da geladeira.
O amigo de Colin é Chick (Gad Elmaleh), operário que é vidrado no filósofo Jean-Bol Bartre (irreverência com Jean-Paul Sartre, claro).
Um dia, Colin conhece Chloé (a maravilhosa Audrey Tautou), uma moça sensível como ele e os dois se apaixonam e se casam.
A vida era feliz com idas à patinação no gelo, festas onde as pessoas dançam danças impossíveis que exigem pernas que se alongam e corpos que se equilibram de maneiras estranhas e passeios por Paris.
Até que Chloé fica doente. Uma terrível e estranha doença que faz uma flor crescer em seu pulmão. Colin rodeia Chloé com muitas flores, único remédio para tentar salvá-la. Isso faz Colin conhecer o outro lado da vida.
O apartamento que era cheio de luz, escurece e se contrai, sob o peso das angústias que passam a ser vividas.
A crítica acusou o diretor Michel Gondry de pecar por excesso. Seu filme seria um exagero, difícil de suportar.
Ora, surrealista e anarquista como o autor do texto, Gondry homenageou de Bunuel a Chaplin, Tanguy e Dali, passando pelo cinema americano de Jean Negulesco, “Papai Pernilongo-Daddy Long Legs” de 1955, Peter Pan e muito mais.
Deixou-se literalmente levar pela imaginação mais louca, os truques são antiguinhos e perfeitos (nada de tela azul) e se cercou de bons atores para sair do comum, do já visto.  E conseguiu isso com o que a crítica chamou de excessos...
Para quem gosta de mudar de tom e se espantar, “A Espuma dos Dias” pode agradar e muito. Os conservadores e os que detestam o “non-sense” do surrealismo e metáforas fabulosas, abstenham-se.

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