“A Espuma dos Dias”-“L’Écume des
Jours”, França, 2013
Direção: Michel Gondry
Se você acha graça na criação de um
universo surrealista onde pernas de mesa usam patins, a comida se mexe no prato
onde é servida, alguém apara as pálpebras com tesoura porque cresceram demais,
um rato mora em seu buraco que é igual ao apartamento do dono da casa, visita-se
Paris em uma nuvem artificial e coisas assim, então você vai se encantar com o
mundo de Boris Vian (1920-1959), escritor do livro que deu origem a esse filme,
e que era engenheiro, escritor, poeta e amante do jazz. Tocava numa banda no
famoso “Le Tabou” e lançou Juliette Grecco, a musa do
existencialismo.
Talvez, para gostar desse filme, você
tenha que abrir mão do que está acostumado a ver: um faz-de-conta que quer
parecer real. Porque em “A Espuma do Dias”, o diretor Michel Gondry (que fez nos
Estados Unidos “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” de 2004), quer que as
coisas malucas da cabeça de Boris Vian possam se materializar como coisas loucas
mesmo. Estamos num mundo onde tudo é possível.
Fala-se de amor, vida e morte,
política, filosofia, religião, poesia mas de uma maneira diferente à que estamos
habituados.
O herói é Colin (Romain Duris) que vive
num apartamento onde tudo foge à lógica da razão. Seu cozinheiro e conselheiro é
Nicolas (o talentoso ator Omar Sy de “Intocáveis”) que prepara as tais comidas
vivas e que conversa com um chef que às vezes está dentro da
geladeira.
O amigo de Colin é Chick (Gad Elmaleh),
operário que é vidrado no filósofo Jean-Bol Bartre (irreverência com Jean-Paul
Sartre, claro).
Um dia, Colin conhece Chloé (a
maravilhosa Audrey Tautou), uma moça sensível como ele e os dois se apaixonam e
se casam.
A vida era feliz com idas à patinação
no gelo, festas onde as pessoas dançam danças impossíveis que exigem pernas que
se alongam e corpos que se equilibram de maneiras estranhas e passeios por
Paris.
Até que Chloé fica doente. Uma terrível
e estranha doença que faz uma flor crescer em seu pulmão. Colin rodeia Chloé com
muitas flores, único remédio para tentar salvá-la. Isso faz Colin conhecer o
outro lado da vida.
O apartamento que era cheio de luz,
escurece e se contrai, sob o peso das angústias que passam a ser
vividas.
A crítica acusou o diretor Michel
Gondry de pecar por excesso. Seu filme seria um exagero, difícil de
suportar.
Ora, surrealista e anarquista como o
autor do texto, Gondry homenageou de Bunuel a Chaplin, Tanguy e Dali, passando
pelo cinema americano de Jean Negulesco, “Papai Pernilongo-Daddy Long Legs” de
1955, Peter Pan e muito mais.
Deixou-se literalmente levar pela
imaginação mais louca, os truques são antiguinhos e perfeitos (nada de tela
azul) e se cercou de bons atores para sair do comum, do já visto. E conseguiu isso com o que a crítica chamou de
excessos...
Para quem gosta de mudar de tom e se
espantar, “A Espuma dos Dias” pode agradar e muito. Os conservadores e os que
detestam o “non-sense” do surrealismo e metáforas fabulosas,
abstenham-se.
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