Direção: Terrence
Malick
O amor pode ser tão
simples quanto raro. Porque, dependendo da pessoa, torna-se complexo e
difícil.
É um sentimento que
convida a dar, mais do que a receber.
Terrence Malick, 70, tem
ensinado isso, a seu modo, nos seus últimos filmes. “A Árvore da Vida” que
ganhou a Palma de Ouro em Cannes em 2011 e agora “Amor Pleno”, falam sobre o
amor com beleza, imagem, luz e poucas palavras.
Uma expressiva jovem, com
olhos brilhantes, brinca alegre com o namorado, também bonito e jovem, em um
trem.
Em “off”ouvimos seus
pensamentos:
“Renascida. Abro meus
olhos. Eu me afundo. Noite eterna. Uma fagulha. Caio na chama. Você me tirou das
sombras. Você levantou-me do chão e me trouxe à vida.”
Paris. E os dois se amam.
Deitam-se na grama do parque e trocam sussurros. Na ponte dos cadeados, unem-se
aos amantes eternos. E o sol brilha sobre o Sena.
A tapeçaria do unicórnio
preso em seu cercado é uma famosa metáfora sobre o amor. Lenda e
mito.
E quando eles sobem o
Monte Saint Michel, sob a neblina e o rumor do mar, os dois ascendem ao plano
mais alto do amor, a “Maravilha”.
Em “off” ela
pensa:
“Subimos s degraus. Mãos
se unem. Para a Maravilha.”
No pátio interno do
convento, um jardim de rosas. Ela as acaricia com luvas e pousa sua cabeça no
ombro dele, que roça a nuca dela com a boca.
“O amor nos faz um”,
pensa ela.
Rosas vermelhas crescendo
na neve. Outra metáfora sobre o amor. Espinhos e frio.
Dificuldades.
“Nunca pensei amar
novamente. Irei onde você for”, ela pensa.
Malick, nesse prólogo,
mostra o amor em imagens. Os dois amantes, seus gestos e olhares e a câmara
dançando em torno a eles. Metáforas tentam traduzir o que é o
amor.
A primeira etapa é sempre
a idealização.
“Meu doce amor.
Finalmente. Minha esperança.” É ele que diz isso em “off”. Mesmo que não se
entregue como ela.
Malick sugere aqui que,
quando nasce, o amor prescinde de palavras ditas, preferindo os suspiros do
coração e o corpo que fala. Não há razão. Só emoção.
Mas, como muitos de nós
sabemos, é preciso trabalhar o amor, abrir os olhos e enfrentar as dificuldades.
Porque só sobrevive o amor que não tem medo de tempestades nem de
dúvidas.
Em “Amor Pleno”, além do
amor humano (Olga Kurylenko, Ben Affleck e Rachel McAdams), vamos acompanhar o
amor ao divino com o padre católico, interpretado por Javier Bardem, excelente
na dor e expressivo nas reflexões sobre suas dúvidas.
Terrence Malick é
considerado um gênio por muitos que prezam seus filmes como verdadeiras obras
primas.
Sua carreira de 40 anos
no cinema, conta com apenas seis filmes. Sempre indicado para prêmios em todos
os festivais dos quais participou, ganhou a Palma de Ouro em 2011 e o Urso de
Ouro em Berlim por “The Thin Red Line” em 1999.
Pouco dado a entrevistas,
ele é também roteirista de seus filmes e filmes de outros diretores e é
produtor. Nascido no Texas de um pai geólogo, com ascendência sírio-libanesa
cristã, Terrence Malick é principalmente um humanista.
“Amor Pleno” agradará a
quem aprecia belas imagens
(fotografia esplêndida de
Emmanuel Lubezki), música celestial (Hanan Townshend é responsável pela música
original mas a trilha sonora vai de “Parsifal” de Wagner a Haydin, Berlioz,
Sostakowitch, Rachmaninov, Tchaicovsky,Dvorak) e uma reflexão sem respostas
sobre a humanidade, seus erros e também a vontade de acertar.
Nos créditos finais ao
som da natureza, suas águas, vento e pássaros, Malick agradece à “Embaixadora da
Boa Vontade”, Alessandra Malick, sua mulher. Esse detalhe diz muito sobre esse
homem raro e sábio. E sobre seu filme “Amor Pleno”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário