Direção: Miguel
Gomes
A África sempre se
prestou a metáforas interessante.
A sexualidade feminina que desafiava Freud a um difícil entendimento, ele a chamou de "Continente Negro".
A sexualidade feminina que desafiava Freud a um difícil entendimento, ele a chamou de "Continente Negro".
Miguel
Gomes, o diretor de “Tabu”, parece também partilhar dessa ideia da África simbolizando o lugar
de sexo proibido, liberado por uma pressão extrema frente ao selvagem, ao
primitivo e assustador.
Na África de “Tabu”, o
homem branco colonizador é seduzido pelo mistério de suas profundezas
inexploradas, num cenário que o impele a experimentar o
proibido.
O amor de perdição, tema
tão caro a um dos grandes escritores portugueses, Camilo Castello Branco, titulo
do livro de 1862, também inspira Miguel Gomes.
Em “Tabu”, há um prólogo
que introduz o assunto, o amor perdido que impele à morte, na figura do
português desconsolado que vai para a África para esquecer a mulher morta mas é
arrastado para o rio onde espreita a única saída para o
esquecimento.
O crocodilo, comedor de
homens, animal fetiche, é quem o leva a seu fim.
A primeira parte de
“Tabu”, “Paraiso Perdido”, passa-se em Lisboa, onde três mulheres solitárias
entrelaçam suas histórias tristes.
Pilar (Teresa Madruga),
de meia idade, sozinha no cinema, olha para nós, que somos a sua tela. Quantas
vidas assistindo outras vidas, que servirão para nos lembrarmos de nós
mesmos.
As outras duas mulheres
são Santa, negra africana, que serve de companhia à dona Aurora, uma elegante
senhora no fim de seus dias (Laura Soveral).
Ela sonha com macacos que
se transformam em homens e tudo é uma desculpa para ela esquecer nas mesas do
Cassino do Estoril, aquele amor que vive na África, aos pés do Monte Tabu, na
fazenda de seu marido.
Estamos já na segunda
parte do filme, “Paraiso”, onde novamente aparece o animal fetiche de Miguel
Gomes, o crocodilo, brinquedo perigoso que Aurora (Ana Moreira), recém-casada,
ganha do marido (o brasileiro
Ivo
Muller).
No sopé do monte
imaginário, cercado pela neblina onde os nativos enxergam demônios, a jovem,
guiada pelo crocodilo, se deixa envolver pelo amor de Ventura (Carlotto Cota)
que a fará viver dias de paraíso e inferno.
O preto e branco, a
narrativa em “off” do amor proibido, as cartas trocadas entre os amantes, os
diálogos que não ouvimos porque aqui o filme é mudo, só sendo ouvidos os sons da
natureza, o vento, o coaxar dos sapos, o murmurar das águas, os grilos na noite
e o rock dos anos 50, remetem o espectador ao seu próprio
passado.
Miguel Gomes homenageia
com seu filme, um grande diretor alemão do passado, F.W. Murnau, que fez “Tabu”
em 1931 e “Aurora” em 1927.
“Tabu” de Miguel Gomes
foi considerado pela revista “Cahiers du Cinéma”, a bíblia do cinema, como um
dos 10 melhores filmes de 2012.
“Tabu” é um momento
diferente do cinema a que estamos habituados mas prova que o amor ainda é e
sempre será um tema que a todos atrai.
Diz o diretor Miguel
Gomes que o verdadeiro paraíso perdido será sempre a juventude, tempo dos amores
loucos e das paixões.
Só os mais velhos poderão
confirmar isso, lembrando do passado com “Tabu”. Aos jovens, resta pensar que a
hora é agora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário