Direção: Hernán
Goldfrid
Detalhes. É com eles que
começa o filme argentino que traz o excelente Ricardo Darín (“O Segredo dos Seus
Olhos”, 2009) como o professor da Faculdade de Direito de Buenos Aires, Roberto
Bermudez.
Assim, vemos uma moeda
girando em cima de uma mesa, uma garrafa de uísque tombada, uma mão ferida
enfaixada, “slides” antigos, um livro aberto no chão, o apartamento revirado.
Darín levanta-se de um sofá de couro e leva as mãos à cabeça. Está tudo ali nos
detalhes que a câmara foca. Porém o espectador tem que prestar atenção. Nem tudo
é falado.
Vamos assistir a um jogo
de “gato e rato”, onde as aparências enganam e antigas rivalidades vem à
tona.
Mas há várias maneiras de
interpretar o filme.
Pode ser a história de um
homem que desmorona e entra num surto obsessivo.
Também pode ser a
história de um aluno que desafia o mestre e quer provar que ele não sabe
funcionar na prática. Só entende de teoria. Vai fazer o orgulhoso professor cair
do seu pedestal.
Em outra camada mais
profunda, o filme pode contar a história de um filho que odeia a mãe e o pai e
desafia quem ele pensa que verdadeiramente o gerou.
A dúvida é o elemento
principal que sustenta a narrativa e prende a atenção do
espectador.
O diretor Hernán
Goldfrid, nas pegadas de Hitchcock e Brian de Palma, cria intriga e suspense
também com as imagens. Tomadas em “close” do rosto de Darín, seus olhos
expressando emoções mudas, sua nuca que é o ponto onde a câmara insinua um
começo de um estrangulamento, imagens desfocadas e duplicadas em espelhos e
vidros, quase que alucinações e delírios.
Um assassinato, cometido
com requintes de perversidade, acontece no estacionamento, em frente à sala da
Faculdade onde o professor Bermudez e o aluno Gonzalo (Alberto Ammann), filho de
antigos conhecidos do professor, se enfrentam, duelando teorias sobre a
justiça.
Quem é o assassino da
borboleta? O professor tem razão em desconfiar do aluno ou está novamente
equivocado como no caso Latorre, citado muitas vezes ao longo do
filme?
Calu Rivero como Laura,
empresta seu encanto e juventude e faz o pomo da discórdia, seduzindo os dois
homens, professor e aluno.
Baseado no livro do mesmo
nome de Diego Paszkowski, admirado autor argentino, “Tese Sobre um Homicídio”,
com roteiro de Patricio Veja, é um “thriller” intrigante e bem
realizado.
E novamente, o cinema
argentino mostra o seu valor.
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