Direção: Pierre
Schoeller
Só pode ser um sonho,
pensamos nós, ao ver as figuras surrealistas na tela. Mulheres com chapéus altos
e véus negros, qual sacerdotisas de uma seita estranha, montam um escritório com
objetos preciosos. Desenrolam um tapete, colocam relógio, uma
escrivaninha...
Mas o que faz aquela
mulher nua e branca em um canto da sala? Horror. Um enorme crocodilo, na outra
ponta da sala, está de boca aberta. Pronto para avançar sobre a pobre mulher?
Com surpresa vemos que acontece o contrário. A mulher rasteja e entra docilmente
na goela do bicho monstruoso.
Essa metáfora, criada em
cima de uma famosa foto de Helmut Newton, “A Lenda da Virgindade”, serve como
uma luva para o diretor francês Pierre Schoeller abrir seu filme que fala sobre
política.
Não como quis o tradutor
brasileiro, que trocou a palavra “Estado” pela palavra “Poder”.
Trata-se, no filme, de
colocar em imagens o exercício do Estado, função das pessoas que elegemos para
ser políticos e decidir sobre muitos dos rumos da nossa vida. O titulo correto
seria então, “O Exercício do Estado”.
Em entrevista a Luiz
Carlos Merten, o diretor do filme explica o titulo e o equívoco cometido pela
tradução:
“O poder se aplica em
qualquer situação humana, há os que mandam e os que são mandados, os que aceitam
e os que se rebelam. O Estado é uma forma de organização social política, em que
os indivíduos, os eleitores, outorgam o poder a uma classe dirigente. Essa
classe tende a formar um núcleo fechado e, eu diria que tende a usar de
expedientes para se eternizar no poder.”
Lá como cá, assim são os
políticos.
Mas, brasileiro tem a
tendência a pensar só em corrupção quando se fala em política. Pudera, há
numerosos exemplos infelizes. Para a maioria de nós, político só pensa em se dar
bem.
Há numerosas e honrosas
exceções, eu diria mas que, infelizmente, fazem a regra no nosso
país.
Na França, os políticos,
em geral, pensam em permanecer em seus postos por uma adoração ao poder que
emana do Estado, o crocodilo do sonho do início do filme.
Daí o filme mostrar um
Ministro dos Transportes que luta pelo seu cargo. Ao enfrentar uma tragédia de
um acidente rodoviário com um ônibus que mata várias crianças, vemos que seus
assessores fazem de tudo para transformar o fato em publicidade gratuita para o
Ministro.
Vivido pelo
extraordinário ator Olivier Gourmet, vamos observá-lo nos bastidores da
política, lutando para continuar sempre em foco. Nem que por isso tenha que
sacrificar amizades, amores e família.
Mesmo aqueles a quem a
política não interessa, inocentes do poder do Estado sobre todos nós, deveriam
ver, nem que seja uma vez na vida, um filme que tenta entender os políticos e
esse vício pelo poder do Estado que os conduz.
“O Exercício do Poder” é
um filme muito elogiado que poucos irão ver. Uma pena.
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