“À Beira do Caminho”-
Brasil, 2012
Direção: Breno Silveira
Quem não tem uma música
de Roberto Carlos marcando um momento romântico em sua vida? O Brasil todo sabe
cantarolar Roberto Carlos.
O diretor de cinema Breno Silveira (“2 Filhos de Francisco” ) é até
explícito: sem as músicas de Roberto Carlos não haveria o filme “À Beira do
Caminho”.
Na tela, um caminhão
enfrenta a poeira numa estrada deserta da Chapada Diamantina, no sertão da
Bahia. E já ouvimos:
“Quantas vezes eu pensei
voltar...”
Na boleia, um cara
barbudo, com o rosto fechado. Adivinha-se nele um sofrimento
antigo.
À noite, sozinho na
imensidão, ele e seu caminhão junto à fogueira, ele rabisca algo num caderninho.
E, de novo, escuta-se a canção:
“Quantas vezes eu pensei
voltar
E dizer que o meu amor
nada mudou,
Mas o meu silêncio foi
maior...”
E lá se vai o
caminhoneiro em sua jornada lenta e solitária, perdido em suas
memórias.
Até que em uma noite ele
encontra, escondido dentro do caminhão, não um bicho ou um ladrão, como pensava
assustado, com um revólver em punho mas um menino. Certamente num dos lugares
onde parou à beira da estrada, o pequeno intruso aproveitara para se esconder lá
dentro.
“- Por favor, não atira,
moço. Só tava pegando uma carona...”
“- Saia já
daí!”
E o garoto mulato, de
olhos expressivos, pede:
“- Moço, você não vai me
deixar aqui, né?”
E a sorte está lançada.
Os dois vão fazer a viagem juntos.
João (João Miguel), o
caminhoneiro triste e Duda (Vinicius Nascimento), o garoto que procura encontrar
o pai, que nunca viu. Nessa vida ele não tem mais ninguém. O retrato 3x4 do pai
está sempre com o menino, assim como o da mãe já morta, uma mulata bonita que
sorri na foto.
O caminhoneiro
atormentado por seu passado e o menino que ele encontrou, vão viver aventuras
naquela estrada que os uniu, já adivinhamos desde o início do filme. A
simplicidade da história mas também suas reviravoltas e o desempenho dos atores
(inclusive Dira Paes, numa ponta que ela aproveita bem), conquistam o nosso
coração e seguimos com eles.
No caminho, as paisagens
de um Brasil que poucos conhecem, os rios com águas claras, o cerrado sem fim,
as fogueiras para se aquecer à noite e as músicas de Roberto
Carlos.
“Presta atenção! Essa é a
nossa canção!
Vou cantá-la sempre aonde
for
Para nunca esquecer o
nosso amor...”
“- Você não tem família,
João?” pergunta Duda sem medo da cara feia do outro.
E o homem só, se lembra
de uma saia florida.
“Como vai
você?
Que já modificou a minha
vida...”
As lembranças que João
traz no peito e que não o deixam em paz, causa daquele sofrimento antigo, vão
reacender um sentimento em seu coração.
E nós, na plateia do
cinema torcemos pelos dois que procuram a quem amar.
A traseira filosófica do
caminhão ensina: Espere o melhor, prepare-se para o pior e aceite o que
vier.
Um filme singelo esse “À
Beira da Estrada”. Roteiro interessante de Patricia Andrade com a colaboração de
Domingos de Oliveira e fotografia sem malabarismos de Lula
Carvalho.
E como é gostoso ouvir a
voz doce de Vanessa da Mata cantando junto aos créditos
finais:
“Olha
aqui,
Presta a atenção,
Essa é a nossa
canção...”
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