Direção: Malgorzata
Szumowska
O que esperar de uma
jornalista madura, classe média alta, que resolve escrever um artigo para a
revista “Elle”, que envolve uma pesquisa com estudantes que se prostituem para
pagar seus estudos?
Anne (Juliette Binoche,
atriz fantástica), mergulha no assunto e se entrega. Noites sem dormir no
computador, filhos, marido e casa em segundo plano. O quotidiano a
enfada.
Pior. Tudo que descobre a
deixa fora de prumo, excitada.
Alicja, uma garota
polonesa que ela conhece através de um anúncio na internet, a envolve
completamente. Com ela, Anne descobre um mundo novo, tentador,
pecaminoso.
E, ao mesmo tempo, começa
a focalizar os homens pela maneira como essa moça pensa sobre os seus
clientes:
“- Que tipo de clientes
você tem?”
“- Maridos que se
aborrecem.”
“- O que você disse que
faz sem camisinha?”, pergunta ela ao ouvir Alicja marcar um encontro pelo
celular.
“- Felação. Esses homens
só dormem com suas esposas, não tem perigo”, responde a
garota.
Lola, a francesa que Anne
também entrevista, perguntada sobre o que fazia antes,
responde:
“- Baby-sitter,
garçonete... Isso ainda me serve de cobertura para contar para meus pais, amigos
e namorado. Mas é com esse trabalho que eu faço dinheiro.”
Lá pelas tantas Anne
comenta:
“- Mesmo assim, não é
fácil...”
“- A gente se acostuma
com o dinheiro”, diz Lola.
E a polonesa Alicja, que
esconde da mãe o que faz na vida, conta:
“- Você sabe como é
difícil arranjar apartamento em Paris. Depois de um mês de trabalho consegui um
lindo!”
Anne, uma intelectual
desligada no começo do filme, começa a se preocupar com o peso, faz exercícios e
dieta. Está sempre pensativa e longínqua em casa, escutando música
clássica.
Inveja a jovem polonesa
bonita e realista? E o que pensar sobre a francesinha que parece tão à vontade
em sua vida dupla? E o sexo que elas encaram com tanta naturalidade? E os
homens? E o marido?
Parece que Anne não tem
outra saída. Sua sexualidade redescoberta vai ter que ser
enfrentada.
O marido
reclama:
“- Desde que começou a
escrever esse artigo você está bizarra...”
Vai ser possível voltar
ao que era antes?
Para muitas mulheres o
sexo permanece um tabu.
A educação moralista dada
às meninas, a ignorância sobre o próprio corpo e seus desejos, a falta de
sinceridade nas relações marido/mulher e o preconceito com a sexualidade
feminina existente ainda na nossa cultura, colaboram para esse resultado que
empobrece a vida de muitas mulheres.
“Elles”, dirigido e
co-roteirizado pela polonesa Malgorzata Szumowska de 34 anos, trata disso tudo com
coragem, questionando e botando o dedo em uma ferida que parece longe de
cicatrizar.
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