“A Luz no Fim do Mundo”- Light of My Life”, Estados Unidos,
2019
Direção: Casey Affleck
Um pai precisa proteger sua filha de um imenso perigo que
ignoramos. Ela é um tesouro, descobrimos depois. É a única, ou pelo menos uma
das únicas que sobraram depois da peste que eliminou do mundo quase todas as
mulheres.
Pai e filha estão numa tenda numa floresta fria de outono.
Ele conta histórias para ela dormir e para, talvez, esquecer de seu próprio
medo. Conta da Arca que tinha um par de cada espécie de animal que existia na
Terra:
“- Eu sou a única da minha espécie. Não conheço outras”, diz
Rag, que tem o cabelo bem curto para que ninguém veja que ela é uma menina.
“- Virão outras e você vai conhecer”, responde o pai.
O pai é o professor da filha, que pergunta coisas e ele
sempre responde. Faz ela soletrar palavras difíceis e conversam sobre os livros
que ela lê. De vez em quando vão até um lugarejo no meio do caminho para buscar
mantimentos. Poucas pessoas vivem por ali mas o pai sempre tem muito cuidado.
Evita homens perigosos. Essa é a maior preocupação do pai. Fogem cada vez que
avistam alguém.
Um dia Rag vomita:
“- Pai? Eu tenho a peste? ”
“- Não querida. Você é imune.”
Dá pena ver a solidão daqueles dois. E Rag não vai ficar
para sempre uma menina. Suas formas de mulher vão aparecer. Será que o pai vai
escondê-la para o resto da vida?
Houve uma mãe (Elizabeth Moss). O pai tem lembranças dela.
Mas Rag não se lembra de nada.
E ficamos pensando. Será que Rag nunca vai poder conhecer
outros homens e mulheres? Dizem que há lugares seguros onde vivem mulheres.
Mas parece que o pai não aguenta perder o seu bebê. Mesmo
quando conta a ela de uma maneira atrapalhada que seu corpo vai começar a
sangrar mensalmente, não diz nada sobre os filhos que ela pode ter.
Afinal Rag é como se fosse Eva. A continuidade da espécie
depende das meninas que sobreviveram à peste.
O roteiro e a direção do filme são do próprio Casey Affleck,
que faz o pai e suscita mais perguntas do que respostas.
Protegendo tanto sua filha, fugindo da convivência humana,
será que ele não desempenha, até sem perceber, o papel de um pai ciumento, que
quer a filha só para ele, só para o seu amor exclusivo, impedindo-a de conhecer
uma vida de mulher? Poderia ser uma encenação de um incesto inevitável?
“A Luz no Fim do Mundo” é um filme raro, com dois atores
fantásticos, Casey Affleck que ganhou um Oscar por “Manchester à Beira Mar” e
Anna Pniovsky, uma maravilhosa revelação.
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