sábado, 2 de novembro de 2019

A Odisseia dos Tontos



“A Odisseia dos Tontos”- “La Odisea de los Giles”, Argentina, Espanha, 2019
Direção: Sebastián Borensztein

Ao som de “Danúbio Azul”, de Strauss, que nos traz à memória o filme “2001- Uma Odisseia no Espaço”, estamos nesse ano na Argentina e Ricardo Darín explica o que é um “tonto”. Na tradução para o português o termo mais adequado seria “idiotas”. Então, “giles” são as pessoas que trabalham, ganham seu dinheiro, pagam impostos e vivem dentro de padrões éticos e são enganados pelo sistema.
Ora, não só na Argentina de 2001 o povo idiota foi lesado em suas economias depositadas no banco. Lá chamou-se “corralito”. No Brasil, nos lembramos do confisco da poupança no governo Collor. E, no mundo inteiro, pessoas sofreram com as consequências da crise de 2008.
No início do filme vemos uma explosão. Mas só vamos saber o que foi aquilo no fim.
Aqui, os idiotas se unem para fazer justiça. Revoltam-se contra o roubo que sofreram.
Mas vamos por partes. A história conta a reunião de amigos em torno de uma ideia. Com muita persuasão, um antigo jogador de futebol, Fermín (Darín) idolatrado por um gol histórico, convence seus amigos a juntar suas economias em dólares para comprar uma fábrica de grãos, fechada por causa da crise que assola o país. Formariam uma cooperativa. É bom lembrar que naquele momento, um dólar valia um peso.
Cada um entra com o que tem e chegam a U$153.000, que são colocados num cofre particular no banco. Fermín vai tentar levantar um empréstimo para conseguir a soma necessária e comprar a fábrica pelo preço de U$ 250.000,00. Mas ele não possuía uma conta corrente que permitisse levantar tanto dinheiro.
E o gerente do banco vem com uma solução. Se ele depositasse naquele dia mesmo os dólares do cofre, trocados por pesos, o empréstimo seria concedido certamente. Se não, ficaria muito difícil. Não podia passar daquela tarde.
Fermín luta com sua consciência, afinal ainda não contara aos amigos essa solução, mas pressionado pelo gerente que conhecia há 30 anos, faz o que ele manda.
E, no dia seguinte acontece o “corralito”. Além da desvalorização do peso frente ao dólar, cada pessoa só pode retirar 250 pesos por semana da conta corrente.
É fácil entender que tudo isso causou um imenso sofrimento.
Passa o tempo e os amigos convencem Fermín a sair da depressão em que tinha caído. Ficaram sabendo que o gerente do banco, mancomunado com um espertalhão que já sabia de antemão o que iria acontecer, levara todos os dólares que estavam no banco. E para onde foram todos esses dólares?
É respondendo a essa pergunta que os “tontos imaginam um plano para vingar-se e recuperar o dinheiro deles.
Produzido pelo próprio Darín e seu filho Chino, ambos trabalham como pai e filho no filme, o que é uma atração a mais. Além deles o elenco conta com Veronica Lilnás, que faz a mulher de Darín e mãe de Chino, Luis Brandoni, o anarquista, a mais rica do grupo, Carmen (Rita Cortese) e outros. Todos ótimos atores.
O tom é de suspense, de torcida pelos “tontos”, que não desistem e que vão atrás do prejuízo.
Adaptado do livro de Eduardo Sacheri, “La Noche de la Usina”, pelo diretor Sebastián Borensztein (“Um Conto Chinês”), contou com a ajuda do próprio Darín no preparo do texto final.
“A Odisseia dos Tontos” é um produto de qualidade, como sempre acontece no cinema argentino e vai representar seu país no Oscar 2020.


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