quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Retrato do Amor



“Retrato do Amor”- “Photograph”, Índia, 2019
Direção: Ritesh Batra

A Índia é um país diferente dos outros. Enorme. População que passa de um bilhão e ainda existem as castas ditadas pela religião hindu. Casamentos mistos até nos dias de hoje são vistos com receio pela geração mais velha e tradicional.
Miloni é uma garota de classe média alta, estuda contabilidade e é a primeira de sua turma. Ela é suave, delicada e fala pouco. Na loja em que a conhecemos, a mãe é quem escolhe o seu vestido.
Miloni é bela. Cabelos curtos encaracolados, pele perfeita, perfil de camafeu, boca bem desenhada e olhos sombreados por cílios escuros e espessos. Tem uma beleza clássica.
Seus pais a querem casada com um indiano rico, que tenha estudado nos Estados Unidos e a faça feliz como merece.
Mas, estranhamente, a pessoa com quem Miloni tem mais afinidade na casa dela, é a criada que veio de uma aldeia do interior, veste-se com o traje tradicional, usa pulseiras nos tornozelos e dorme num colchãozinho na cozinha.
Miloni interessa-se pela vida no interior e a vemos respondendo a um pretendente que se sente cidadão do mundo:
“- Eu gostaria de morar numa aldeia. Cuidar da terra e dos animais de manhã e depois do almoço dormir debaixo de uma árvore.”
E é ela que é fotografada como se fosse uma turista, no Portal da Índia em Mumbai, quando descia da balsa. O fotógrafo é Rafi, pobre mas com algo de nobreza em seu modo de se comportar.
E ele tem um problema. Não tão jovem, precisa de uma falsa noiva para mostrar para a avó, que vem visita-lo e quer que lhe dê um bisneto.
Procura por Miloni com afinco e vai descobrir onde ela estuda. Ele explica o que está acontecendo e ela aceita passar por sua noiva frente à avó e agradar a Dadi, uma senhora espevitada mas tradicionalista. Foi ela quem cuidou do neto quando os pais de Rafi se separaram e sumiram, deixando dívidas que Rafi se esforça ainda para pagar.
Miloni e Rafi tem algo da Índia eterna, um país com cores jamais vistas e deuses e deusas para todos os acontecimentos da vida. Um país romântico, onde os filmes de Bollywood  são fantasias sobre o amor, com danças e cantos fora da realidade.
O que não é o caso desse filme, “Retrato do Amor”, que também fala de um amor romântico mas que tem que se cuidar para sobreviver e vencer obstáculos.
É uma história envolvente, delicada e solene em sua simplicidade. Não ficamos sabendo de tudo o que acontece porque o diretor deixa algo para a nossa imaginação trabalhar. E é obra do mesmo diretor e roteirista que nos presenteou com sucessos como “Lunchbox” de 2013 e “Nossas Noites” de 2017.
Ritesh Batra, que foi também produtor, apresentou seu filme no Festival de Berlim e agradou à plateia politizada e sofisticada com sua proposta de uma sedução delicada.


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