“Dor e
Glória”- “Dolor y Gloria”, Espanha, 2018
Direção:
Pedro Almodóvar
O cineasta
brilhante, inquieto e irreverente, que todos conhecemos, foi aplaudido
longamente no Festival de Cannes desse ano, depois da exibição de “Dor e
Glória”. Quem trabalha na indústria do cinema sabe o quanto ele é valioso.
Criou um estilo próprio, muitas vezes imitado. Virou adjetivo e colocou o
cinema da Espanha no mundo.
Ganhou
vários prêmios e foi indicado a cinco Oscars, dos quais levou dois: Melhor
Filme Estrangeiro - “Tudo sobre Minha Mãe” 2000 e Melhor Roteiro Original –
“Fale com Ela” 2002.
Em “Dor e
Glória”, que tem conteúdo autobiográfico, é vivido por Antonio Banderas, que
ganhou o prêmio de melhor ator em Cannes pelo papel.
Aos 70
anos, completados em 24 de setembro, ele oferece ao público um filme
esteticamente belo, com aquelas cores vivas e brilhantes, pedra de toque do
cinema de Almodóvar.
Mas aqui há
depressão e amargura frente à decadência. Um cineasta maduro vê seu corpo
recusar-se a ficar saudável, desde a morte da mãe, há quatro anos e uma
operação de coluna que deixou dores terríveis como sequela. Além disso, sofre
de engasgos que quase o sufocam, dores de cabeça fortíssimas e insônia.
“- Nos dias
em que padeço de um só tipo de dor, sou ateu”, comenta ele com Zulema (Cecilia
Roth), uma amiga que se preocupa com ele.
O corpo de
Salvador fala de seus conflitos, da sua paralisia criativa, do luto pela mãe
que adorava, do amor que não viveu plenamente, da idade que já pesava.
Perto dos
70 anos, o diretor não consegue mais trabalhar e culpa seu corpo. Apela para
outra droga, e no lugar da cocaína, coloca a heroína, que o aprisiona ainda
mais. Experimenta por curiosidade e cai no vício. E tudo fica ainda mais
pesado.
Para se
defender de seus temores, sua frustração e a vivência da solidão, Salvador
volta ao passado. Há inúmeras cenas belas e tocantes, como a das lavadeiras,
que abre o filme, ele com sua mãe Jacinta (Penélope Cruz, maravilhosa), outra
quando antes de dormir, larga seu álbum de figurinhas com artistas de cinema,
enquanto sua mãe cerzia sua meia furada com o ovo de madeira e a visão do
pedreiro Eduardo que desperta nele o primeiro desejo.
Não há sexo
mas sensualidade em “Dor e Glória”.
E há a
belíssima cena final com a mãe jovem, Penélope Cruz e o menino, que dormem num
quarto improvisado, todo vermelho, ele no sofá, ela no chão. O filme dentro do
filme. Simplesmente genial.
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