quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Dor e Gloria



“Dor e Glória”- “Dolor y Gloria”, Espanha, 2018
Direção: Pedro Almodóvar


O cineasta brilhante, inquieto e irreverente, que todos conhecemos, foi aplaudido longamente no Festival de Cannes desse ano, depois da exibição de “Dor e Glória”. Quem trabalha na indústria do cinema sabe o quanto ele é valioso. Criou um estilo próprio, muitas vezes imitado. Virou adjetivo e colocou o cinema da Espanha no mundo.
Ganhou vários prêmios e foi indicado a cinco Oscars, dos quais levou dois: Melhor Filme Estrangeiro - “Tudo sobre Minha Mãe” 2000 e Melhor Roteiro Original – “Fale com Ela” 2002.
Em “Dor e Glória”, que tem conteúdo autobiográfico, é vivido por Antonio Banderas, que ganhou o prêmio de melhor ator em Cannes pelo papel.
Aos 70 anos, completados em 24 de setembro, ele oferece ao público um filme esteticamente belo, com aquelas cores vivas e brilhantes, pedra de toque do cinema de Almodóvar.
Mas aqui há depressão e amargura frente à decadência. Um cineasta maduro vê seu corpo recusar-se a ficar saudável, desde a morte da mãe, há quatro anos e uma operação de coluna que deixou dores terríveis como sequela. Além disso, sofre de engasgos que quase o sufocam, dores de cabeça fortíssimas e insônia.
“- Nos dias em que padeço de um só tipo de dor, sou ateu”, comenta ele com Zulema (Cecilia Roth), uma amiga que se preocupa com ele.
O corpo de Salvador fala de seus conflitos, da sua paralisia criativa, do luto pela mãe que adorava, do amor que não viveu plenamente, da idade que já pesava.
Perto dos 70 anos, o diretor não consegue mais trabalhar e culpa seu corpo. Apela para outra droga, e no lugar da cocaína, coloca a heroína, que o aprisiona ainda mais. Experimenta por curiosidade e cai no vício. E tudo fica ainda mais pesado.
Para se defender de seus temores, sua frustração e a vivência da solidão, Salvador volta ao passado. Há inúmeras cenas belas e tocantes, como a das lavadeiras, que abre o filme, ele com sua mãe Jacinta (Penélope Cruz, maravilhosa), outra quando antes de dormir, larga seu álbum de figurinhas com artistas de cinema, enquanto sua mãe cerzia sua meia furada com o ovo de madeira e a visão do pedreiro Eduardo que desperta nele o primeiro desejo.
Não há sexo mas sensualidade em “Dor e Glória”.
E há a belíssima cena final com a mãe jovem, Penélope Cruz e o menino, que dormem num quarto improvisado, todo vermelho, ele no sofá, ela no chão. O filme dentro do filme. Simplesmente genial.


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