segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Pássaros de Verão



“Pássaros de Verão”- “Pajaros de Verano”, Colômbia, 2018
Direção: Cristina Gallego e Ciro Guerra


Quando a jovem e bela Zaida (Natalia Reyes) vai sair da choça onde ficou segregada por um ano para tornar-se mulher, escuta as palavras de sua mãe Ursula (Carmiña Martinez). E entendemos a filosofia de vida da tribo dos Wayuu, que vivem na região de Guajira, no norte da Colômbia. Para eles a família é o principal.
Pertencer a uma família significa proteger e pensar sempre no melhor para ela. “Quando há família, há respeito e honra”, diz a matriarca para a jovem Zaida.
Ela olha sua mão e vê nos cinco dedos a avó, a mãe, o tio, o sobrinho e o neto. A constelação familiar se apoia em seus membros.
Todos a esperam para a dança ritual com seu irmão menor. É uma beleza ver o seu vestido vermelho amplo, estufado pelo vento, servir como asas para ela correr atrás do homem e, por sua vez, ele correr atrás dela. O irmãozinho cai no chão e o másculo Rapeyet (José Acosta) toma o seu lugar. Nos olhares que trocam durante a dança, percebemos que há uma forte atração entre eles.
Mas o pretendente de Zaida ficara muito tempo longe, entre os “alijuna”, os não indígenas, afastado dos costumes dos wayuu, gente simples e correta. Ele quer fazer dinheiro.
E realmente começa a degradação dos costumes quando americanos jovens do “Peace Corps”, que estão no local catequisando o povo contra o comunismo, mostram que a maconha já plantada na região, poderia ser exportada e render muito dinheiro. Rapayet vai liderar esse tráfico.
Aviões cheios de sacos de erva cruzam os céus, antes só dos pássaros, e vão trazer uma guerra entre as famílias. Muito sangue vai correr.
O filme é belíssimo. Imagens da natureza árida do deserto, vento sempre presente, a mata verdejante por onde andavam cabras e vacas, agora tomadas por carros com homens armados.
Vamos ver uma história épica e dramática, contada em cinco cantos, acontecida nos anos 60 a 80.
Ciro Guerra, que dirigiu “O Abraço da Serpente” de 2015, um filme raro e poético, sobre mitos da Amazonia colombiana, aqui conta, através de fortes imagens, o que foi o começo do narcotráfico no país.
É triste pensar que um povo que sempre soube defender seu território dos invasores europeus e piratas, ficou inerte frente às mãos cheias de dólares que geraram corrupção e discórdia, onde antes havia paz e um sentimento de fraternidade.


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