“Jornada da
Vida”- “Yao”, França, 2018
Direção:
Phillippe Godeau
Entramos
numa festinha de crianças. Quando acaba, o pai (Omar Sy) põe o aniversariante
no colo e ficam vendo os bichos da África no IPAD. Mas a mãe, severa, diz que é
hora de dormir.
Entendemos
que o casal se separou e que a tão sonhada viagem de pai e filho para a África
não vai acontecer. Com mau humor ela despacha o ex marido dizendo que o menino
não vai porque está com otite. Verdade? Mentira?
Vê-se claramente
o quanto aquele casal se desentendeu e quem paga é o filho deles.
Senegal.
Uma aldeia pobre para padrões europeus mas com crianças alegres. Correndo,
brincando, indo para a escola.
Um garoto
se destaca. Yao fala para os outros de um livro que ele leu tantas vezes que
decorou. E anuncia que o autor, um grande ator francês, vem para a terra deles
lançar seu livro de memórias.
“- Vou
encontrá-lo e pedir uma dedicatória.”
Enquanto
falam distraídos, sentados na praça, uma cabra esperta surrupia a preciosidade
que é o livro para Yao mas que para ela é comida. Salvo o livro, com algumas
páginas faltando, Yao diz:
“- Vou
costurar o livro. As páginas que faltam eu escrevo, sei tudo de cor.”
Dia
seguinte põe o já famoso livro, tão gasto e refeito, na mochila e vai por uma
estrada de terra a pé. Tudo na paisagem é seco e árido. Enormes baobás são o
enfeite daquele deserto.
Yao pede
carona e logo chega na estação de trem que leva à capital, Dakar. Menino
esperto, se esconde debaixo da saia ampla de uma negra simpática que gostou de
participar e ajudar o menino a viajar sem bilhete.
No
aeroporto de Dakar chega o ator que tem ascendência senegalesa e que resolveu
lançar seu livro em sua terra ancestral. Assediado por muita gente e imprensa,
ele não está contrariado. Ao contrário, parece que quer dar um presente para
aqueles que o admiram, o filho que vem visitar a Terra Mãe.
Mas ele
estranha, no caminho, as ruas cobertas de tapetes e todos se curvando ao apelo
do muezim. São muçulmanos. Ele não conhece os costumes do Senegal. A vida toda
morou na Europa.
Quando Yao
chega da viagem de 300 km até o lugar do lançamento do livro, vê o ator de
longe e quer entrar na fila dos autógrafos. Uma mulher negra, bem vestida,
enxota o moleque. Yao obedece e senta-se na rua, pacientemente esperando a fila
acabar.
E quando o
ator do sorriso branco encontra o menino de sorriso também branco, algo
acontece de extraordinário. O mais velho se reconhece no mais novo. Um dia ele
foi como aquele menino que estende seu livro, estragado pelo uso e pela cabra.
Com prazer, ele faz o autógrafo e pergunta:
“- Você
veio sozinho? Qual o nome da sua aldeia?”
“- Vim
porque seu livro é meu preferido. Gosto também de Júlio Verne.”
“- E onde
você arranja livros?”
“- Na
Biblioteca da aldeia.”
O ator está
encantado com aquele menino que fala bem e ama os livros.
“- Você vai
dormir onde? Venha comigo.”
Assim,
próximos e parecidos, lá se vão eles para as aventuras que os esperam na terra
deles. O menino vai ser o facilitador e o guia do ator famoso que, ali, é como
se fosse branco, já que não fala a língua do país e não conhece os costumes.
Mas, levado
por Yao, o ator vai encontrar suas raízes africanas e vai passar a
reconhecer-se como senegalês, como aquele menino inteligente e esperto que só
precisa de livros para sonhar e ser feliz.
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