Direção:
Dexter Fletcher
Uma
silhueta contra a luz tem um vermelho que brilha. É Elton John (Taron Egerton)
que sai fantasiado de um show com asas e chifres, finalmente procurando ajuda
numa clínica de reabilitação.
Dessa forma
engenhosa, o roteiro de Lee Hall nos leva a ouvir confissões do popstar sobre
sua vida, seus conflitos, suas vitórias e derrotas, amores e decepções. Até
então procurando alívio de suas frustações na bebida, drogas, sexo e
consumismo, ele vai se despir da fantasia e reencontrar-se.
Elton John
vai procurar o menino prodígio que ele foi, Reginald Dwight, que aos 11 anos
ganhou uma bolsa de estudos para ter aulas de piano na Academia Real de Música.
Mas bem
pequeno ainda já surpreendia a avó (Gemma Jones) e a mãe (Brice Dallas Howard)
ao mostrar seu ouvido privilegiado, tocando a música que ouviam no rádio.
O talento
inato daquele menino tímido para a música era um jeito de chamar atenção sobre
si. Mas, na família, apenas a avó mostrava carinho por ele, que era um ser
carente de amor.
Então não
será em casa que ele vai encontrar esse amor que tanto procura. O pai, objeto
de adoração, não ligava a mínima para esse filho. A mãe tinha outros interesses
e também era fria.
Parece que
toda a carreira dele foi para provar que existia para os olhos daqueles pais
que souberam aproveitar do dinheiro que ele ganhou mas se mantinham
afetivamente distantes.
O show em
Los Angeles no Troubador foi um sucesso de crítica e de público e o projetou
para o mundo. Aos 25 anos já era um milionário.
Mas a
transformação de Reginald em Elton John não ocorreu de forma fácil. Conflitos
existiam dentro dele e não eram verbalizados. A timidez o levava para o fundo
do palco mas seu talento o empurrava para a glória dos estádios cheios de fãs
cantando e dançando com ele. Talvez quem mais o conheceu foi o amigo Bernie
Taupin (Jamie Bell), parceiro nas letras das músicas de sucesso.
Pode ser
que as roupas extravagantes, os óculos carnavalescos, as botas e as cores
psicodélicas no palco fossem purpurina que ele jogava nos olhos do público para
que não enxergassem o menino frustrado e carente que existia dentro dele. Um
mal amado até por si mesmo.
E apesar de
todos os conflitos e frustrações que o levaram à beira da morte, presa de seus
impulsos autodestrutivos, havia ali um menino que só pedia que o amassem e
confirmassem que ele era talentoso e bom. A cena desse reencontro consigo
mesmo é bela e comovente.
O filme é
uma fantasia musical que mistura ficção e realidade. As canções que todo mundo
conhece são apresentadas de maneira bem trabalhada nos cenários, luzes,
ângulos, figurinos e coreografia. Destaque para o momento em que Elton John e
seu público levitam.
Taron
Egerton é um assombro. O ator galês, 29 anos, conseguiu mimetizar os gestos e o
jeito de Elton John de forma surpreendente. Não dublou. Ele é quem canta.
No mais, o
diretor Dexter Fletcher (que substituiu Bryan Singer em “Bohemian Rhapsody”)
soltou-se mais e dirigiu cenas que vão ficar nos olhos da gente por muito
tempo.
O elenco é
ótimo desde o melhor amigo Bernie até o calculista John Reid ( Richard Malden)
que foi o primeiro amor e empresário de Elton John por 28 anos.
Muitos
prêmios certamente virão para o filme, produzido pelo próprio Elton John, que
foi ovacionado no Festival de Cannes onde estreou.
Um delírio.
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