“Uma Questão Pessoal”- “Una Questione Privata”, Itália,
França, 2017
Direção: Paolo Taviani
Esse foi o último filme que os irmãos Taviani assinaram,
pois Vittorio morreu em abril de 2018, aos 88 anos, terminando uma parceria de
mais de 60 anos de filmes premiadíssimos, feitos por ele e o irmão Paolo, 86
anos.
Alíás, estamos duplamente enlutados porque um dos produtores
desse último filme, Ermanno Olmi, outro grande nome do cinema italiano, diretor
de “Árvore dos Tamancos”, que ganhou a Palma de Ouro em Cannes, também faleceu
esse ano.
“Uma Questão Pessoal” foi adaptado do romance de Beppe
Fenoglio, publicado em 1963, que escreveu sobre a Resistência na Itália,
durante a Segunda Guerra. Entretanto, no filme o foco do roteiro, assinado
pelos irmãos Taviani, está em um triângulo amoroso e a guerra é um pano de
fundo. Mostrada com realidade, sem dúvida e o filme é importante como
testemunho da luta contra o fascismo. Mas é numa guerra íntima que o filme está
mais interessado.
Milton (Luca Marinetti, excelente ator) fica conhecendo
Fúlvia (Valentina Bellè) através do amigo Giorgio (Lorenzo Richelmy). Vemos os
três juntos durante o verão de 1943, na bela casa de campo da família de
Fúlvia. Milton está claramente apaixonado mas não se declara, por timidez e
medo de ser rejeitado. Ela, por sua vez, troca longos olhares com Milton
enquanto dança com Giorgio. Fúlvia é coquete e flerta com os dois.
Quando a guerra chega ao Piemonte em 1944, Milton e Giorgio
entram na resistência. E o filme começa com Milton, armado, com um companheiro,
imersos numa densa neblina. De repente, Milton larga tudo e começa a subir correndo
a colina. Vemos o outro gritar seu nome mas ele não atende. E chega a seu
destino. A casa de Fúlvia, bela e fechada.
A caseira vem ver quem está ali e reconhece Milton. Ele
pergunta sobre a moça, se mandou notícias. Mas não. E a mulher, entrando na
casa com ele, sem querer, envenena o coração de Milton, contando dos encontros
noturnos de Fúlvia e Giorgio, naquele verão passado.
Cego de ciúmes e raiva, Milton sai à procura de Giorgio.
O belo Giorgio, de família rica e Milton, de uma classe
social inferior, eram amigos íntimos, apesar da diferença entre eles. E Milton
se divide agora entre o ódio que sente do amigo e a vontade de não querer
acreditar que ele o traiu.
Na verdade, Milton está enlouquecido pois não havia nada de
sério entre ele e Fúlvia, além da paixão platônica, não declarada e longas
cartas que ele enviava quando Fúlvia ia a Turim.
Não à toa, a música “Over The Rainbow”, cantada por Judy
Garland ou só em notas interrompidas, é ouvida durante o filme. Magia e
nostalgia.
E a neblina densa, que ora esconde a paisagem, ora dá lugar
ao sol brilhante, é como se fosse uma metáfora para a paixão que cega Milton.
“Uma Questão Pessoal” é um filme poético, com sentimentos
que eclodem vindos de uma parte autodestrutiva de Milton que quer matar e morrer.
Felizmente ele descobre a tempo que quer viver.
Bravo aos irmãos Taviani! Adeus a Vittorio..
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