terça-feira, 18 de setembro de 2018

Marvin



“Marvin”- Marvin ou La Belle Éducation”, França, 2017
Direção: Anne Fontaine

O close inicial é o de um rosto jovem se preparando em frente ao espelho, que somos nós, a plateia. É um ator. Finnegan Oldfield é Martin Clément, que já foi Marvin Bijou. Vai contar a história de sua vida, num cenário onde vemos um espelho d’água cor de sangue, uma escada e uma cadeira.
Apenas dois personagens nessa peça escrita pelo próprio ator. Ele e ela, sua mãe, interpretada pelo ícone do cinema e do teatro francês, Isabelle Huppert, que faz ela mesma.
Mas o filme dirigido por Anne Fontaine (“Agnus Dei” e “Coco antes de Chanel”) se inspira no livro de Edouard Bellegueule e não tem uma narrativa linear. Nossa compreensão da vida e da personalidade de Marvin, desde quando era um garoto entrando na adolescência até a idade adulta, é criada com “flashbacks” muito bem montados.
Assim, no início vemos um Marvin solitário, perseguido por garotos mais velhos que batem nele e o obrigam a atos contra sua vontade, passam batom em sua boca e o chamam de “viadinho”.
Também vemos sua ingenuidade e a vida que leva numa família pobre e tosca. Pai bruto, mãe distante e ignorante. Um meio irmão mais velho e também brutal e um irmãozinho menor.
“- Pai? O que é “viado”? Li no cartaz do ponto de ônibus. Escreveram “Viados Sujos.”
“- Você sabe. Um degenerado. Um doente mental. ”
E Marvin, anos mais tarde, pensa alto:
“- E eu me lembro que pensei então que eu não era louco. Se ser “viado” é ser doente mental, então eu não era “viado”, porque não era louco. ”
E o mesmo menino eu sofria com o “bullying” dos mais velhos, na verdade era sensível, carente, alguém que não pertencia a esse ambiente brutal onde nascera e vivera até então.
E quando o desejo por um corpo masculino aparece nele na piscina da escola, olhando aqueles que o maltratavam, a mente de Marvin sofre com a incompreensão do que se passava com ele. Desejos contraditórios. Culpa.
Sua salvação vai ser as aulas de teatro e a nova diretora da escola que percebe o quanto aquele menino precisava de uma mão amiga.
Mas mais importante que tudo, Marvin precisava se conhecer e gostar de si mesmo. Aprender que ele não era o “errado”. Ele era apenas diferente dos outros meninos. Mas existiam os iguais a ele.
E Anne Fontaine dirige seu filme com inspiração e a dose certa de emoção, seguindo o caminhar de Marvin em direção a si mesmo.
A auto aceitação, mais difícil do que o papel de vítima, faz Marvin dar-se o nome de Martin e mudar de sobrenome. Bijou pra Clément, o nome da diretora que foi sua tutora e amiga.
E então, concluir em sua peça teatral autobiográfica que a realidade é subjetiva. E que, portanto, podia olhar também o seu passado e sua família com outros olhos.
Marvin conseguiu reinventar-se.


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