“As Herdeiras”- “Las Herederas”, Paraguai, Alemanha, Brasil,
Uruguai, Noruega, França, 2018
Direção: Marcelo Martinessi
A sutileza, a timidez, a dependência e a quase
invisibilidade eram características do mundo de Chela (Ana Brun) que mantinha
uma relação íntima com Chiquita (Margarita Irun), que é mais independente, mais
segura e que tomava conta de tudo na casa onde Ana nascera e na qual viviam
juntas há 30 anos.
As duas pertenciam a uma elite da cidade de Assunção,
Paraguai e conheceram a riqueza. Mas agora era a decadência que lá se
instalava.
“As Herdeiras” vai contar a história dessas duas mulheres
naquela idade que não se sabe direito se são cinquenta e tantos ou sessenta e
poucos. E nesse período da vida é difícil aceitar mudanças. Então elas são
obrigadas a receber pessoas interessadas em comprar o que resta do fausto de
uma época. Os cristais, a prataria, quadros e móveis, tudo está à venda.
Chela e Chiquita são ajudadas pela amiga Carmela (Alicia
Guerra) a lidar com todo tipo de gente, que vasculha a casa e pechincha o
preço.
A nova empregada Pati (Nilda Gonzalez) é analfabeta mas
gentil com as patroas e firme com os possíveis compradores das riquezas que
restaram.
Mas não adianta. As dívidas com o banco levam Chiquita à
prisão. Chela vai ficar só.
E quando isso acontece, ela não consegue dormir. A ausência
da companheira vai mexer com medos profundos. Parece uma criança perdida, tal a
imobilidade perante o mundo. Só consegue pintar seus quadros e não sai de casa.
Visita Chiquita na prisão mas a balbúrdia e o vozerio das
mulheres a atordoam.
E, contra todas as previsões, aos poucos, essa mulher vai
mudar. Mas será algo que acontece dentro dela, no poço profundo de seus
sentimentos, escondidos até de si mesma.
O tempo da prisão de Chiquita vai ser o de libertação para
Chela, que aprende a dar passos no mundo, muito instigada a isso pela vizinha
que pede que a leve ao jogo diário com as amigas. Conduzindo o velho Mercedes,
leva as senhoras para casa.
Tímida e orgulhosa no início, depois aceita que paguem pelos
seus serviços.
E a juventude de Angy (Ana Ivanova), uma moça que ele fica
conhecendo, vai abrir outras portas trancadas em Chela. Seus olhos azuis se
iluminam, o espelho mostra uma mulher ainda bela e o futuro dirá o que pode
acontecer.
O filme ganhou o Urso de Prata de melhor atriz para Ana Brun
e de melhor direção para Marcelo Martinessi no Festival de Berlim. Além disso,
“As Herdeiras” ganhou 20
prêmios nos festivais pelo mundo e aqui em Gramado ganhou o
prêmio de melhor filme do júri popular, melhor roteiro para Marcelo Martinessi
e melhores atrizes para Ana Brun, Margarita Irun e Ana Ivanova.
Um filme delicado, que não quer polêmica mas mostrar que o
mundo feminino tradicional está mudando em toda a parte.
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