domingo, 30 de julho de 2017

Monsieur & Madame Adelman



“Monsieur & Madame Adelman”- Idem, França 2017
Direção: Nicolas Bedos

Alguém tecla rápido numa máquina de escrever. Uma casa de campo, um lago. Interiores de um gosto refinado. Triste, uma ainda bela mulher, marcada pelos anos, arruma-se diante do espelho. A filha chama:
“- Você não vem mãe?”
No funeral de um escritor de sucesso, ninguém menos que Jack Lang (ex Ministro da Cultura), faz o elogio fúnebre:
“- Estamos em luto por um poeta. Victor Adelman foi um dos homens mais engraçados e talentosos que eu conheci. Ele nos deixa Sarah, sua mulher da vida toda...”
Na recepção, depois de tudo, um jornalista (Antoine Gouy) se apresenta a Sarah. É um dos biógrafos do marido, vencedor do prêmio Goncourt, que quer saber mais sobre o escritor.
“- Você não acha que já são muitas biografias? Original seria você escrever a minha. Porque todos nessa casa estão pensando: Essa é a velha que matou o marido?”
E passa a recordar as quatro décadas e meia do casamento deles. Como fundo musical os The Platters cantam “Twilight Times” de 1971, seguida de várias outras canções como “You’re a Lady”de 1973. Quem, com mais de 60 anos, não se lembra?
E a pergunta que se quer fazer é: ela fala a verdade? Conta mesmo tudo que se passou? Ele era mesmo assim? E ela?
Claro que a resposta é uma só, já que a “verdade” é sempre subjetiva. O fato contado é uma lembrança trabalhada por um afeto.
E Sarah é inteligente, divertida, culta, narcisista na medida certa e adora seduzir e ser seduzida. Então, o retrato que ela faz do casal, é charmoso, romântico, diálogos na ponta da língua e de um humor juvenil e intelectual. Isso no início. Depois o humor ganha acidez e aparecem os lados escondidos dos personagens.
Ele (o próprio diretor e roteirista, Nicolas Bedos) é um homem com cara de menino bonito e temperamento rebelde, de uma família conservadora, pai autoritário e burguês (Pierre Arditi) e mãe refugiada na bebida. Frequenta há anos o divã de um psicanalista paciente (o formidável Denis Podalydès).
Ela (Doria Tillier, também roteirista e atriz estreando com  talento), alta e boa estrategista, belo corpo e presença marcante, de uma família judia pobretona, imigrantes mas com laços verdadeiros entre eles e um pai de inteligência brilhante e simpático.
Na versão de Sarah, ela teria sido a eminência parda e ele um homem que fazia tudo que sua musa queria. Pelo menos por um bom tempo. O casal teve, como todo mundo, altos e baixos.
De qualquer modo, o roteiro a quatro mãos, de um casal da vida real, é muito bom e nos leva a reviver nossos “anos dourados”, para quem viveu naquela época onde os tabus foram quebrados e um vento de liberdade soprava .
Se alguém quiser dizer que o filme é comercial, feito para o entretenimento das pessoas que ainda frequentam salas de cinema, eu diria que sim, por que não? Quanto mais que tudo é bem feito, bem escrito, bem interpretado. A maquiagem na velhice dos dois é um pouco estranha? Ora, estamos no cinema. O truque faz parte.
O importante é que Nicolas Bedos, em seu primeiro filme, acertou em quase tudo. Risos e lágrimas, humor e seriedade, sabedoria e loucura, são os ingredientes dessa comédia dramática que agrada ao público por onde passa.

Um ponto a mais para o cinema francês que sabe fazer sucesso sem ter a necessidade de ser vulgar.

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