“Souvenir”- Idem, Bélgica,
França, 2015
Direção: Bavo Defurne
Isabelle Huppert é uma atriz
tão divina que só mesmo ela pode fazer de maneira tão comovente, e nada piegas,
o papel de Laura, uma cantora que conheceu a fama mas caiu no esquecimento.
A pobre tem uma vida de
rotina repetitiva e monótona, sem nenhum brilho nem criatividade. Trabalha numa
fábrica de patês e se encarrega, com outras mulheres, da decoração final com
folhas e frutinhas, antes da embalagem do produto. Um trabalho maquinal que
deve levar à loucura.
Em casa, quando chega,
senta-se na frente da TV para ver os mesmos programas e beber o mesmo uísque,
enquanto fuma e olha a telinha sem ver.
Até que um dia, Jean Leloup
(Kevin Azais) chega e muda tudo. Lilianne (Laura era o nome artístico) é
reconhecida.
O pai dele era fã de Laura e
até hoje a mãe de Jean tem ciúmes quando o marido se lembra dela.
Jean tem apenas 22 anos, é
boxeador, vive com papai e mamãe e se apaixona loucamente por Lilianne. Ela
está há tanto tempo adormecida, que só mesmo ele, com uma perseverança paciente
e fogosa, consegue despertá-la para a vida.
“Souvenir” é um conto de
fadas para adultos. O mito da fênix, que renasce das cinzas depois que todos a
acreditavam morta, é antigo e eterno. E aqui, é representado com graça por
Isabelle Huppert.
Ela é uma diva que pode se
permitir todas as artes, Canta afinada, aproveitando-se de um gestual teatral
personalíssimo e coquete.
Seu corpo magro e flexível,
com um vestido de paetês dourado, à luz dos refletores, leva a plateia ao
delírio.
Das bolhas do remédio
efervescente para a ressaca matinal, às bolhas da champanhe dos vencedores,
assim caminha Laura nos braços de Jean, deixando a plateia seduzida e
cantarolando com ela o refrão da canção “Jolie Garçon”(“Garoto Bonito”): “Je
dis oui!”
Sim! Ela diz sim aos seus
braços fortes e a seu coração doce.
Sorte do diretor belga Bavo
Defurne para quem Isabelle Huppert também disse sim.
E o nosso sim, mil vezes sim,
para a atriz talentosa e famosa que não se importa em aparecer num filme
pequeno, de baixo orçamento, sem pretensão e que faz tudo brilhar com a sua
presença solar.
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