“A Jovem Rainha”- “The Girl
King”, Finlândia, Alemanha, Canadá, Suécia, França, 2015
Direção: Mika Kaurismaki
Aquela que ficou conhecida
como Cristina da Suécia é uma personagem com uma biografia historicamente
importante e muito peculiar em certos acontecimentos em sua vida (1626-1689).
O filme de Mika Kaurismaki,
irmão mais velho de Aki, também diretor e mais famoso, retrata a figura
daquela que, aos 6 anos, herdou de seu pai, Gustavo Adolfo II, o trono da
Suécia. Ela era filha única do rei e Maria Leonor de Hohenzoler-Brandemburg, da
Alemanha (Martina Gedek).
A primeira cena do filme
retrata a loucura da mãe de Cristina, que mandara embalsamar o corpo do marido,
cujo coração guardava numa caixa de cristal. Vemos a menina entrando no quarto
da mãe e beijando o rosto do pai morto.
“- Boa noite e até amanhã,
papai.”
A mãe de Cristina tinha
perdido dois bebês sucessivamente e se culpava por não ter dado um filho ao
rei. Quando Cristina nasceu, com muito cabelo, foi confundida com um menino e
houve festejos no castelo. Outros dizem que o bebê era hermafrodita, odiado por
sua mãe.
O certo é que sua educação
foi a de um herdeiro do trono. Falava varias línguas, tinha aulas de esgrima,
filosofia, artes equestres e tudo mais que o Chanceler Axel Qxenstierna
(Michael Nyqvist) achasse importante. A menina tinha uma inteligência acima da
média e gostava de estudar.
Mas era avessa a vestidos e
penteados. Andava com roupas masculinas e tinha uma personalidade forte e
independente.
Foi coroada aos 18 anos e a
“Menina Rei”, como era chamada, já que a palavra rainha era usada somente para
a mulher do rei, tornou-se Cristina I, com planos de tornar a Suécia, um centro
de cultura, a Atenas da Europa. Queria também terminar a guerra com os
católicos.
Ora, os suecos, protestantes
empenhados há 30 anos em guerra com os católicos, não gostaram dessa ideia. Mas
Cristina I teve êxito, assinando o Tratado de Westfália que determinava que
cada príncipe poderia impor a seu estado sua própria religião. Dizem que já
nessa época, Cristina I se aproximara secretamente do catolicismo por
influência dos jesuítas portugueses.
Mas o filme centra-se na
amizade de Cristina com o filósofo francês René Descartes (Patrick Bauchau) que
a corte conservadora não aprovava. Pior era o fato de que não queria ouvir
falar em casamento, o que criava um problema para a sua sucessão. Diga-se de
passagem que ela encontrou uma solução surpreendente para essa questão.
Mas o roteiro, saído de uma
peça do canadense Michel Marc Bouchard, interessa-se mais em mostrar Cristina I
como uma “crossdressing” e uma feminista de vanguarda. O caso amoroso com
sua dama de companhia, a condessa Ebba Spare (Sarah Gadon), é o centro de
interesse do filme.
A relação das duas mulheres é
mostrada de forma recatada e esteticamente agradável. A atriz sueca morena
Malin Bush, faz uma Cristina I bela e autoritária, bonito par romântico com a
loura “mignon” e atrevida.
Os figurinos de Marjatta
Nissinen são marcantes e sofisticados mas não seguem uma moda de época,
parecendo contemporâneos.
“A Jovem Rainha” foi filmado
quase que inteiramente na Finlândia, com cenários de inverno realçados pela fotografia
de Guy Dufoux.
Enfim, um filme bonito de se
ver, com diálogos menos elegantes (dizem que por culpa da tradução do francês
para o inglês) mas que agrada a quem gosta de uma aula de história com detalhes
picantes.
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