“Personal Shopper”- Idem, França, 2016
Direção: Olivier Assayas
Espíritos? Fantasmas? Coisas proibidas?
Desde que o mundo é mundo, o homem tentou entender
se existe vida após a morte. Todas as religiões tratam desse assunto. E sabemos
que existem tabus.
Por isso não é de se estranhar que Maureen (Kristen
Stewart, ótima atriz), garota americana que vive na Europa, se interesse por
esses assuntos. Quanto mais que ela teve um irmão gêmeo, Lewis, que morreu
recentemente de uma deficiência congênita no coração, que ela partilha. Os dois
fizeram um pacto. O primeiro que morresse, daria um sinal ao outro de vida após
a morte.
Ambos acreditavam que eram médiuns, se bem que
Maureen sempre achasse que Lewis era melhor que ela para fazer esse tipo de
contato.
É nesse clima estranho que tudo vai se passar. Mas
não se trata de um filme de terror. Longe disso. É bem mais sofisticado. É
sobre o medo e o desejo que as coisas proibidas acendem em nós.
Maureen é uma “personal shopper” ou seja, compra
coisas luxuosas e caríssimas para uma “top model” que não tem tempo para se
ocupar com isso. Kyra (Nora von Waldstatten), viaja o tempo todo atrás dos
desfiles de moda e das celebridades, que é o mundo ao qual pertence.
Maureen anda de “scooter” em Paris levando joias
suntuosas da Cartier para Kyra escolher. Ou viaja até Londres para trazer o
vestido que a outra vai adorar e aparecer com ele em todas as revistas que
cobrem o mundo “fashion”.
Kristen Stewart é a garota descolada, que sabe o
que escolher entre as coisas mais caras que estão à venda. Não é pelo preço que
ela compra. Porque não tem que se preocupar com isso. É Kyra que paga e, ao
mesmo tempo, exige que ela não experimente nada. E aí está o sinal de
“proibido” que acende o desejo.
Mas Maureen não admite esse porém. Compra mas não
experimenta. Pensa que está acima dessas futilidades. Até que acontece. Ela se
olha no espelho e se vê como Kyra.
Quem a incentivou a fazer isso, transgredir, foi
alguém que a persegue no “whatsapp” e ela não sabe quem é. Nem mesmo se é morto
ou vivo. Porque ela transita entre esses dois mundos ou pensa que sim.
Há nesse filme de Olivier Assayas (prêmio de melhor
direção em Cannes no ano passado) uma alusão ao nosso mundo contemporâneo que
inventa objetos do desejo para o nosso consumismo, que é uma fuga do medo de
nos pensarmos frágeis e mortais. Quem não tem acesso a esse mundo de coisas,
contenta-se em explicar que é daí que vem a angústia. De não ser diferente. De
não ser alguém.
E os fantasmas? Ectoplasmas? Ruídos em casas mal
assombradas? Tudo isso está dentro de nós, mortais amedrontados que somos.
Como sair dessa? Cada um que procure e ache sua
resposta, parece dizer o responsável por “personal shopper”, Olivier Assayas.
É um filme intrigante e envolvente.
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