“Mulheres do Século XX”-
“20th Century Women”, Estados Unidos, 2016
Direção: Mike Mills
Estamos em Santa Barbara,
Califórnia, em 1979. Dorothea Fields (Annette Bening, atriz maravilhosa), e
Jamie (Lucas Jade Zumann), seu filho de 15 anos, olham o Ford Galaxy que queima
no estacionamento do supermercado.
“- Era o carro do meu
ex-marido. Nele trouxemos nosso filho da maternidade. Eu tinha 40 anos... Desde
então, somos só nós dois”, diz ela em “off”, fumando o tempo todo.
Moram os dois numa casa
grande construída em 1904. Está sendo restaurada aos poucos por William (Billy
Crudup), que também mora lá.
Dorothea nasceu em 1924,
passou pela Grande Depressão de 39, pela Segunda Guerra e pelo divórcio e agora
enfrenta a adolescência do filho único, com a impressão receosa de que ela não
conseguiria fazê-lo tornar-se um homem.
Para tanto, recruta duas mocinhas
que estão sempre pela casa. Abbie de 19 anos (Greta Gerwig, ótima) que aluga um
dos quartos e a bela Julie (Elle Fanning) de 17 anos, que é amiga de Jamie
desde que eram pequenos e que dorme escondida, toda noite, na cama dele, como
irmãos. Conversam e se apoiam mutuamente. Ela é filha de uma terapeuta mas não
se dão bem. Aliás Abbie também tem problemas com a mãe.
Assim, Dorothea funciona como
mãe para Abbie e Julie busca Jamie para fazer o papel de irmãozinho. As duas
garotas são muito carentes.
Jamie é apaixonado por Julie
mas ela é complexa e egoísta. Parece que não percebe o quanto Jamie precisa
controlar seus impulsos amorosos e o quanto sofre ao saber que ela transa por
aí com outros garotos.
Estamos no final dos anos 70
na Califórnia e a contracultura é o que impera. Dorothea tem a mente aberta,
sente-se bem como divorciada mas não consegue gostar das bandas punk que Abbie
e Jamie adoram.
Na TV lá está o presidente
Jimmy Carter fazendo seu discurso sobre a confiança e só Dorothea curte.
Vemos os trechos do
documentário “Koyaanisqati” que mostra pessoas agitadas com a câmara acelerada
seguindo o ritmo do shopping center, das escadas rolantes, do consumismo e da
alimentação “fast food”.
As cores da natureza nas
estradas à beira mar já são psicodélicas, saturadas, arco-íris.
E o feminismo entra pela casa
de Dorothea nos livros de Susan Sontag e Simone de Beauvoir que as garotas leem
e emprestam para Jamie, que é o centro de atenção da casa.
Às vezes parece que ele está
cansado de conviver com tantas mulheres. Mas quem sabe já não é um precursor
dos homens sensíveis ao feminino que John Lennon cantará em “Woman”em 1980?
O material do filme parece
vir direto das experiências do diretor Mike Mills, às voltas com a complexidade
de sua mãe. E Annette Bening se apropria do papel com tanta energia e graça que
não podemos deixar de simpatizar com ela.
O forte do filme são os
personagens e como enfrentam seus problemas dentro do clima familiar que a mãe
Dorothea comanda nas conversas ao redor da mesa do café da manhã ou do jantar.
“Mulheres do Século XX” é um
filme gostoso, de afetos calorosos.
Este filme é um dos melhores do gênero de drama que estreou o ano passado. É impossível não se deixar levar pelo ritmo da historia. Considero que consegue o seu objetivo de nos informar e inclusive nos faz pensar sobre o tema. Em: https://br.hbomax.tv/ encontrei os horários para vê, se ainda não tiveram a oportunidade de vê-lo, eu recomendo.
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