quarta-feira, 8 de março de 2017

Fome de Poder



“Fome de Poder”- “The Founder”, Estados Unidos, 2016
Direção: John Lee Hancock

O sonho americano do sucesso é perseguido por muitos. Aliás quem quer ser um “looser”? No capitalismo, as regras são ganhar sempre e então você será um “winner”(vencedor) ou um “looser”(perdedor).
Ray Kroc, 52 anos, um vendedor de produtos aparentemente inovadores, rodava os Estados Unidos à cata de compradores para uma máquina de fazer “milk-shakes”. Ele tem uma boa lábia e sabe vender seu produto que é diferente dos outros do mercado. Faz mais, com menos tempo. Porém vende um aqui, outro acolá. O mercado é restrito.
Até que em 1954, ele entra em contato com um comprador que encomendara seis multimixers. Ele liga, certo de que se tratava de um erro da secretária. Mas não, era verdade. Dick McDonald precisava de oito daquelas máquinas.
Ray olha o mapa e de Illinois vai até San Bernardino pela Route 66, atravessando planícies imensas, perseguindo sua intuição. Quem será esse tal de McDonald?
No quarto de motel onde se hospeda para passar a noite, Ray ouve discos de auto-ajuda que vendem “O Poder do Pensamento Positivo”. São frases como “Nada no mundo substitui a persistência” ou “Um homem é aquilo que ele pensa o dia todo”.
Ray come em drive-ins pelo caminho e se irrita com a espera pela comida. Isso quando não vem errada.
Quando chega ao quiosque McDonald fica encantado com o que vê. Filas que andam rapidamente. Clientes satisfeitos. Limpeza. E comenta com o sujeito que varre o chão:
“- Foi o melhor hamburger que já comi”.
“- Sou Mac, quer fazer um tour pelo nosso quiosque? Vou apresentar meu irmão Dick para você”, diz sorrindo um dos donos da lanchonete que não serve em pratos. Só embalagens de papel e cada um come seu hamburguer onde quiser.
A linha de montagem dos irmãos Dick (Nick Offerman) e Mac (John Carroll Lynch), o cérebro e o coração do McDonald, é perfeita. Em 30 segundos sai um sanduiche feito com cuidado e habilidade. Vendem também batata frita e refresco.
“- Quero ouvir a história de vocês. São o melhor restaurante que eu conheço. E olha que eu conheço bem a área alimentícia!”, diz Ray simpático.
Aí começamos a entender como foi possível partir de um quiosque para um império bilionário, presente em todo os Estados Unidos e em 100 países do mundo.
Raymond A. Kroc cedeu a uma ambição desmedida e tirou, sem dó nem piedade, os “dois caipiras”, como chamava os irmãos, da empresa que eles haviam imaginado e montado. Em seu cartão lê-se “Founder” da “The McDonald Corporation”, que alimenta 1% da população mundial diariamente.
Ficou casado com a mulher Ethel (Laura Dern) até a sua morte, para não dar para ela nenhuma ação da empresa e casou-se com Joan (Linda Cardellini), que se afinava mais com sua maneira de pensar e agir:
“- Contratos são como corações. Feitos para serem quebrados.”
O diretor John Lee Hancock conta essa história, que quase ninguém conhece, de maneira correta.
Michael Keaton está ótimo e passa para a tela a ambiguidade de Ray Kroc, um homem batalhador mas pouco atento à ética de suas ações. O roteiro de Robert Siegel mostra a escalada da ambição de Ray e o lugar cada vez mais remoto que a preocupação com os outros ocupa em sua mente.
Para muitos ele será sempre admirável, um verdadeiro “winner”. Para outros, um sujeito sem moral, que passou por cima dos verdadeiros donos do negócio, aproveitando-se de sua boa fé.
Será verdade aquilo que dizem que por trás de um negócio bilionário tem sempre um jogo sujo?



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