quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Três Lembranças da Minha Juventude


“Três Lembranças da minha Juventude”- “Trois Souvenirs de ma Jeunesse”, França, 2015
Direção: Arnaud Desplechin

É em torno à sua vida afetiva que Paul Dédalus vai nos manter curiosos.
O filme começa com ele adulto (Mathieu Amalric), na cama, com uma bela mulher, que pede para ele fazer uma “mágica” para que ela o esquecesse. Ele está de partida. Vai deixa-la.
É então que começa o desfile de suas lembranças, divididas em três capítulos.
Na “Infância”, um menino assustado, tentando defender-se com uma faca, da mãe louca, que ele diz odiar e que morre quando ele tem 11 anos. A tia Rose, que lhe dá colo e um lugar na casa dela e que se preocupa com a relação de Paul com seu pai. Os dois perdidos em sentimentos dolorosos, depressivos. Tão parecidos e tão distantes.
Em “Rússia”, a ajuda generosa e idealista a um jovem judeu, que se torna seu “irmão gêmeo”, que encontra a terra-mãe.
E na terceira lembrança, a mais longa, o encontro com a mulher de sua vida, Esther, seu único amor.
“- Alguém já te amou mais do que a própria vida? Pois é assim que eu vou te amar” diz Paul no primeiro encontro, depois do primeiro beijo, a uma mocinha surpresa.
Mas ele a deixa e vai para Paris, fazer sua formação como antropólogo, com a maternal doutora que o acolhe em seu coração africano.
E, durante dez anos de pouca presença e muitas cartas, já que se escrevem quase todo dia, esse amor ficará “intacto”, como Paul diz para um amigo, justamente porque nunca se transforma num convívio de um casal normal.
“- Você sabe que não sou homem para casar e ter filhos” diz ele a Esther, que sofre com suas ausências e o ama desesperadamente e faz tudo que o  ele pede.
Porque o amor de Paul é caprichoso. Ele mais quer ser amado por uma mulher intangível do que amar uma mulher real, de carne e osso e exigências femininas.
Esther vai ser a única mulher que Paul amou, sem poder realizar esse sentimento longe do sofrimento mútuo. Há uma forte ênfase em sentimentos masoquistas em Esther, e disfarçadamente sádicos em Paul. É quase com satisfação que Paul arrasta Esther a se envolver com seus amigos e amigas.
O melhor do filme de Arnaud Desplechin é o frescor dos jovens amantes no começo da paixão. Quentin Dolmare e Lou Roy-Lecollinet, com espontaneidade e naturalidade, expõe seus corpos jovens e descobrem o que o outro tem de melhor e pior, descobrindo-se também através dessas trocas íntimas que envolvem corpos e mentes.
Poderia ter sido uma banal história de adolescentes mas Desplechin faz o espectador participar de uma sofrida procura dos abismos do ser, que sempre nos assombra.
Em “Três Lembranças da Minha Juventude” o que é lembrado é aquilo que não se pode esquecer. Não obrigatoriamente o que foi vivido.
Um filme para quem gosta de se perguntar sobre o amor.

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