Direção: Scott Cooper
Johnny Depp está irreconhecível. Muito magro, pálido,
ralos cabelos claros e olhos com lentes azuis. Mas a frieza é o que mais
assusta.
Mesmo quando ele ajuda uma velhinha na rua com suas
compras e o informante que está revelando para a polícia a história de James
Whitey Bulger, o “Jimmy”, diz que ele era adorado por todos, na região de Boston
onde viviam, o ator passa uma impressão de um ser que é uma sombra sem
alma.
Tudo começa em 1975 e a história é contada pelos que
conviveram e fizeram parte do grupo em torno a Jimmy, chamado “Winter Hill
Gang”, que praticava todo tipo de crime como extorsão, tráfico de drogas e
assassinatos.
Saído de Alcatraz, onde passou dez anos, o irlandês,
representado na tela pelo ator preferido de Tim Burton, convivia quando menino
com John Connally (Joel Edgerton, que está excelente). Esse amigo, que se torna
membro do FBI, faz a tal “aliança do crime” com o antigo companheiro de
infância:
“- Brincávamos de mocinho e bandido nessas mesmas ruas
de agora. Mas hoje em dia fica difícil dizer quem é
quem...”
Com a promessa de se tornar informante do FBI sobre a
Máfia italiana, Jimmy consegue proteção para o seu grupo, que passa a agir
livremente.
Os únicos contatos afetivos de Jimmy, a mãe dele e o
filho pequeno, morrem, fazendo com que essa figura arredia e de poucas palavras,
fique ainda mais estranho.
Seu irmão menor, Billy (Benedict Cumberbach), um
senador, também parece ser alguém que Jimmy quer poupar de maiores sofrimentos,
mas o filme não aprofunda essa ligação fraterna.
Os assassinatos dos que traem Jimmy são cometidos à
queima-roupa pelos que o cercam, mas à medida que passa o tempo, o próprio Jimmy
executa esse trabalho sanguinário. Aquilo que era frieza, tornou-se crueldade
insana, fazendo do irlandês um psicopata muito
perigoso.
Consequência, diminui o número dos que o adoravam e
aumenta o grupo dos que tem medo dele ou rancor.
Estranhamente, depois de cometer assassinatos, Jimmy se
refugia na igreja, onde uma câmara no alto mostra um ser isolado, minúsculo mas
especialmente amedrontador. O título do filme em inglês alude a uma “Missa
Negra” na qual todos os valores da outra estão invertidos e desrespeita-se
aquilo que é venerado.
Há momentos em que Johnny Depp parece o próprio Satã,
com os olhos vazios e fixos e um corpo descarnado. Será que é dessa vez que ele
vai ganhar o Oscar?
O filme, dirigido com brilho por Scott Cooper, baseado
em fatos reais, é pesado e não idealiza em nada a figura de James Whitey Bulger.
Parece querer ensinar que o crime realmente não
compensa.
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