“A Acusada”- “Lucia de B.”, Holanda, Suécia,
2014
Direção: Paula Van der Oest
Quando mais um bebê morre numa UTI de um hospital na
Holanda, os preconceitos das outras enfermeiras contra sua colega Lucia de Berk
(Ariane Schluter, excelente atriz) , estimulados pela polícia, tornam-se
alimento para acusações de supostos assassinatos de bebês e idosos, da noite
para o dia. Ela é vista como arrogante, estranha, solitária e
mandona.
E, no entanto, era conhecida sua dedicação ao trabalho e
o jeito especial que ela tinha de acalmar os bebês doentes em seu
colo.
A promotora encarregada do caso (Annet Malherbe, ótima)
fica desconcertada com a rapidez com que a enfermeira é considerada suspeita de
múltiplos assassinatos. Não havia provas contra ela. Nem
testemunhas.
Mas a ansiosa assistente novata da promotoria, Judith
Jansen (Sallie Harmsen), em seu primeiro caso, quer mostrar seu valor e
convencer a promotora:
“- O diretor do hospital citou estatísticas de uma
chance em 700 milhões de ser coincidência o número de mortes e reanimações de
bebês e idosos quando Lucia de Berk estava de plantão.”
“- Não temos um caso aqui. Esse número é
ridículo!”
“- É uma chance em 340 milhões. Um especialista reviu os
dados”, responde a novata. “E os médicos que examinaram o sangue disseram que
havia digoxina, uma droga fatal para bebês.”
“- Mas não há marcas de agulha no corpo do bebê! Como
ela poderia ter ministrado a droga? E não houve autópsia nos outros
bebês?”
“- Dois foram cremados e um era
muçulmano...”
Mas colocam escutas no telefone de Lucia e, quando ela
fala sobre haloperidol para ministrar ao avô doente, um mandado de busca é
expedido às pressas, conduzido pela assistente da promotora e a polícia, que
encontram “provas”: livros sobre assassinatos na prateleira da sala e um diário
que fala sobre uma “compulsão” de Lucia, que ela guardaria em segredo até a sua
morte.
Levada para a prisão algemada, Lucia parece calma com um
olhar estranhamente vazio. A imprensa assedia o carro que a conduz e os
repórteres gritam seu nome, enquanto os flashes e as câmaras entram em
ação.
Quando a assistente encontra um hiato de tempo cortado
do eletrocardiograma do bebê que morreu, é o bastante para ela convencer a
promotora a abrir o caso:
“- Esse foi o tempo que ela precisou para injetar o
veneno por gotejamento no dosador.”
“- Mesmo assim, não podemos provar os outros crimes”,
questiona a promotora.
“- Como não? Os livros sobre crimes, o passado dela,
manipuladora e compulsiva. As características de uma
psicopata.”
Pronto. O “Anjo da Morte” como passam a chamar Lucia,
vai ser julgado num clima de histeria coletiva. Vai ser difícil a luta da defesa
para tentar salvar Lucia de Berk de uma “caça às
bruxas”.
A justiça está condicionada a julgamentos subjetivos e
sabemos que, quando alguém é encarado
como uma ameaça para pessoas doentes e indefesas, todos são tomados pelo medo. É
a invasão das mentes pela fantasia apavorante do grande poder da mãe sobre a
vida e morte de seu bebê, que todos fomos um dia. Uma alucinação
coletiva.
Levado num ritmo acelerado e com excelentes atuações, o
filme da diretora Paola Van der Oest, baseado em fatos reais assustadores,
prende o espectador.
Foi o maior erro judiciário acontecido na
Holanda.
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