sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Olmo e a Gaivota



“Olmo e a Gaivota”- “Olmo and the Seagull”, Brasil, Portugal, Dinamarca, França, Suécia, 2014
Direção: Petra Costa e Lea Glob

Foi perturbador para Petra Costa, 32 anos, atriz e diretora de cinema, constatar que nem na literatura, nem no cinema, havia material psicológico importante sobre o tema que ela queria trabalhar em seu segundo filme, a gravidez. Compreendeu que, assim como o suicídio, abordado em seu primeiro documentário, o belo “Elena”, havia um tabu no tema da maternidade. Sempre que se falava nela, evitava-se tocar no que se passava na cabeça de uma mulher grávida. Nada sobre dúvidas, nem problemas, nem medos.
Ora, a gravidez coloca sempre em jogo a soberania da mulher sobre seu próprio corpo. Era disso que Petra Costa queria tratar.
Convidada para fazer parte de um projeto dinamarquês, que une em duplas diretores do país com estrangeiros, ela foi escolhida para fazer parceria com Lea Glob, que havia filmado um curta sobre o suicídio do pai. O tema era comum às duas e Petra sempre admirou o cinema dinamarquês.
Outro desejo das diretoras era trazer o teatro para o cinema. Daí a escolha da atriz Olívia Corsini do Théatre du Soleil, conhecida companhia francesa, com quem Petra nutria laços desde muito tempo.
Nesse momento inicial, a ideia era fazer algo como o que acontece no livro de Virginia Wolf, “Mrs Dalloway”, que conta o dia na vida de uma mulher. Enquanto ela faz coisas triviais, o passado e o futuro a invadem.
Mas, quando Olivia contou que estava grávida, chamaram seu companheiro Serge Nicolai e o projeto transformou-se numa já antiga vontade de Petra de falar sobre maternidade. Foram meses de filmagem sobre a atriz que tem que ficar presa em casa porque sua gravidez corre risco. E, desolada, vê o companheiro continuar com o projeto que era dos dois, a encenação da peça “A Gaivota” de Tchekhov, em Nova York e Montreal.
Realidade e ficção misturam-se frente aos nossos olhos.
Em closes reveladores, a câmara vasculha a mente de Olivia, que traduz em seu rosto e olhos expressivos, o que se passa com ela. Dúvidas e medos sobre o futuro, a carreira, o momento presente:
“- Não sei ao que me agarrar...”
E quando fala, muitas vezes grita suas angústias em francês e italiano com o companheiro:
“- Tenho um “alien” crescendo dentro de mim...”
“- Você está sensível demais”, diz Serge que é carinhoso com Olivia mas toca sua vida.
O filme é uma mistura muito íntima entre os atores, que vivem sua própria relação e o resto da equipe de filmagem que se intromete entre o casal. Há momentos em que ouvimos em “off” a voz da diretora, questionando a cena filmada e pedindo para que os atores repitam o que fizeram, de outra maneira.
“O Olmo e a Gaivota”, vencedor do prêmio de melhor documentário do Festival do Rio 2015, não é um documentário realista. É um olhar denso e questionador sobre a vivência da maternidade.
“Olmo e a Gaivota” é, no dizer de Petra Costa, “a luta entre as raízes e a liberdade”. O medo de não mais voar, está presente em Olivia, que sente que o bebê realiza uma grande mudança nela e ela se pergunta se vai perder asas ou transformar-se numa nova combinação, quase impossível, de voo e raízes.
Excelente.


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