“Chatô – O Rei do Brasil”, Brasil,
1995
Direção: Guilherme Fontes
A primeira cena do filme foi imposição do próprio Chatô,
como o chamavam. Nela, ele e sua filha Teresa, vestidos de índios, comem bispos
portugueses, “num deslumbrante piquenique”
antropofágico.
Foi assim que Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira
de Mello, nascido em Umbuzeiro, Paraíba, em 1892 e falecido em São Paulo em
1968, exigiu que seus biógrafos o retratassem.
E assim fez Fernando Morais, que, em 1994, lança seu
livro sobre o discutido Chatô.
Guilherme Fontes comprou os direitos do livro, brigou
com Luiz Carlos Barreto que também tinha feito uma oferta e meteu-se numa
embrulhada digna do próprio Chatô no financiamento de seu filme, que só veio a
ser lançado agora, 20 anos depois.
Assim, o filme participa da lenda e havia alguns que o
aguardavam ansiosos enquanto outros achavam que ele não existia. O diretor foi
acusado de tudo mas, finalmente, demonstrou que as lutas judiciais valeram a
pena e mostrou ao público na pré-estreia na semana passada, um filme que faz jus
ao personagem.
Porque Chateaubriand (interpretado com brilho por Marco
Ricca) foi louvado e atacado por amigos e inimigos e taxado de excêntrico e
prepotente, aqui e na Inglaterra, onde foi embaixador entre 1957 e 1960. A cena
da coroação da rainha Elizabeth II é exibida em preto e branco, com a
participação, digamos, jocosa, de Assis Chateaubriand, aliviando-se numa garrafa
vazia em plena Catedral de Westminster.
O diretor acertou ao descartar a cronologia ou mesmo a
veracidade dos fatos e contar a vida do homem através de seus feitos, alguns
execrados, outros exaltados, ainda outros exagerados.
Advogado, ele participou da vida pública e política do
Brasil, foi senador e amigo/inimigo de Getúlio Vargas (Paulo Betti). Jornalista,
começou jovem no “Correio da Manhã” e chegou a possuir uma rede de jornais,
revistas (O Cruzeiro), rádio e televisão pioneira, a TV Tupi de 1951(“Os Diários
Associados”).
Foi fundador do MASP em 1947, museu de arte de São
Paulo, cujo acervo foi adquirido em meio a boatos os mais diversos, com o
auxílio de Pietro Maria Bardi (1900-1999) cuja mulher, Lina Bo Bardi
(1914-1992), foi arquiteta do prédio do museu.
No filme, em meio a um delírio provocado por uma
trombose em 1960, que o deixou sem falar e andar, um programa de televisão
imaginário, apresenta os personagens de sua vida, principalmente suas mulheres,
que foram muitas.
Casado com Maria Henriqueta Barrozo do Amaral (Letícia
Sabatella), separou-se dela para viver com uma menina argentina de 16 anos
(Leandra Leal), mãe de sua filha Teresa. A fascinante Vivi Sampaio, um amálgama
de mulheres a quem amou, na pele de Andréa Beltrão, que se divide entre Chatô e
Getúlio, tem cenas memoráveis, inclusive a última.
Os figurinos caprichados e uma bela luz, conferem ao
filme a magia necessária ao clima de sonho e pesadelo em que se desenrolam as
memórias de Chatô.
Um filme original, farsesco, bem imaginado, bem
dirigido, com um ótimo elenco.
Eu adorei.
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