domingo, 16 de novembro de 2014

Trinta


“Trinta”- Brasil, 2014
Direção: Paulo Machline

Quem nunca se empolgou com um desfile de escola de samba no Rio? A emoção daquele povo brilhando na avenida, ao som da bateria e do samba enredo, arrepia, quando dá certo.
Todo brasileiro, goste ou não de Carnaval, já ouviu falar de Joãosinho Trinta (1933-2011). Foi ele que mudou a cara dos carros alegóricos e dos sambistas. Seu trajeto foi duro, mas ele venceu. Consagrou-se como o maior carnavalesco do Brasil.
E “Trinta” conta a história, que pouca gente sabe, dos inícios da vida desse homem, que veio do Maranhão para ser bailarino no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Auto-didata, conhecia óperas, teatro, literatura e sonhava em dançar nos grandes balés, encenados no palco daquele teatro vermelho e dourado onde o filme tem início, com ele fazendo uma grande reverência para uma plateia virtual.
Foi nos anos 60 que tudo começou na vida dele. Muito “plié”, “grand jetés” e barra, para ficar sempre no fundo do palco? Pudera, ele tinha 1,48 m, físico pouco apropriado para um bailarino “étoile”.
Mas ele insistiu. E enfrentou o preconceito dos parentes, injuriados porque ele preferiu o balé ao emprego arranjado.
“- Em São Luís tá todo mundo falando que você é baitola. Uma vergonha para a sua família, João. Largou o emprego para quê? Para dançar? Por maquiagem na cara?” pergunta indignado o parente (Marco Ricca) que veio do Maranhão para censurá-lo.
Mas a estrela de João iria brilhar logo. Era seu talento que não cabia naquela repartição, nem no fundo do palco. Foi subindo e passou dos adereços e figurinos à cenografia do Municipal.
Foi então que aconteceu a grande virada. Fernando Pamplona (Paulo Tiefenhaler) brigou com o manda-chuva da Salgueiro e abriu o caminho para Joãozinho Trinta, que era seu assistente.Tinha sido a mulher de Pamplona, a primeira bailarina Zeni (Paola Oliveira) que aproximara os dois.
Quem fazia alegorias, passou a carnavalesco da escola vermelho e branca. Inspirou-se nas lendas que escutara quando criança no Maranhão natal e fez a Salgueiro campeã do carnaval de 1974.
No começo, parecia que tudo estava dando errado. Plumas não havia, espelhos também não.
“- Intelectual é que gosta de miséria. Pobre gosta de luxo!”exclamou irritado frente à má vontade de alguns.
A frase que o consagrou foi a alavanca para ele transformar o lixo em luxo e, ainda por cima, ganhar a admiração e o carinho do povo da escola.
Matheus Naschtergaele vive Joãosinho Trinta com força e emoção. O diretor Paulo Machline, que conheceu bem o personagem, não se enganou na escolha do ator.
E a trilha sonora do filme é outro acerto. Ouvimos de tudo, de Verdi a Noel Rosa, de Cartola a Chico Buarque. A música original é de André Abujamra, que pontua com eficácia a emoção ou o “stress” do momento.
“Trinta”, com uma impecável direção de arte e reconstituição de época, é uma homenagem merecida a um talento da arte popular brasileira.
Emociona.

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