“Trinta”- Brasil, 2014
Direção: Paulo Machline
Quem nunca se empolgou com um desfile de escola de samba
no Rio? A emoção daquele povo brilhando na avenida, ao som da bateria e do samba
enredo, arrepia, quando dá certo.
Todo brasileiro, goste ou não de Carnaval, já ouviu
falar de Joãosinho Trinta (1933-2011). Foi ele que mudou a cara dos carros
alegóricos e dos sambistas. Seu trajeto foi duro, mas ele venceu. Consagrou-se
como o maior carnavalesco do Brasil.
E “Trinta” conta a história, que pouca gente sabe, dos
inícios da vida desse homem, que veio do Maranhão para ser bailarino no Theatro
Municipal do Rio de Janeiro.
Auto-didata, conhecia óperas, teatro, literatura e
sonhava em dançar nos grandes balés, encenados no palco daquele teatro vermelho
e dourado onde o filme tem início, com ele fazendo uma grande reverência para
uma plateia virtual.
Foi nos anos 60 que tudo começou na vida dele. Muito
“plié”, “grand jetés” e barra, para ficar sempre no fundo do palco? Pudera, ele
tinha 1,48 m, físico pouco apropriado para um bailarino
“étoile”.
Mas ele insistiu. E enfrentou o preconceito dos
parentes, injuriados porque ele preferiu o balé ao emprego
arranjado.
“- Em São Luís tá todo mundo falando que você é baitola.
Uma vergonha para a sua família, João. Largou o emprego para quê? Para dançar?
Por maquiagem na cara?” pergunta indignado o parente (Marco Ricca) que veio do
Maranhão para censurá-lo.
Mas a estrela de João iria brilhar logo. Era seu talento
que não cabia naquela repartição, nem no fundo do palco. Foi subindo e passou
dos adereços e figurinos à cenografia do Municipal.
Foi então que aconteceu a grande virada. Fernando
Pamplona (Paulo Tiefenhaler) brigou com o manda-chuva da Salgueiro e abriu o
caminho para Joãozinho Trinta, que era seu assistente.Tinha sido a mulher de
Pamplona, a primeira bailarina Zeni (Paola Oliveira) que aproximara os
dois.
Quem fazia alegorias, passou a carnavalesco da escola
vermelho e branca. Inspirou-se nas lendas que escutara quando criança no
Maranhão natal e fez a Salgueiro campeã do carnaval de
1974.
No começo, parecia que tudo estava dando errado. Plumas
não havia, espelhos também não.
“- Intelectual é que gosta de miséria. Pobre gosta de
luxo!”exclamou irritado frente à má vontade de alguns.
A frase que o consagrou foi a alavanca para ele
transformar o lixo em luxo e, ainda por cima, ganhar a admiração e o carinho do
povo da escola.
Matheus Naschtergaele vive Joãosinho Trinta com força e
emoção. O diretor Paulo Machline, que conheceu bem o personagem, não se enganou
na escolha do ator.
E a trilha sonora do filme é outro acerto. Ouvimos de
tudo, de Verdi a Noel Rosa, de Cartola a Chico Buarque. A música original é de
André Abujamra, que pontua com eficácia a emoção ou o “stress” do
momento.
“Trinta”, com uma impecável direção de arte e
reconstituição de época, é uma homenagem merecida a um talento da arte popular
brasileira.
Emociona.
Nenhum comentário:
Postar um comentário