quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Boa Sorte




“Boa Sorte”- Brasil, 2014
Direção: Carolina Jabor

Toda Julieta tem o seu Romeu. Quase todo mundo conhece a história trágica desses dois na famosa peça de Shakespeare. É o primeiro amor, sendo vivido com beleza e drama.
Mas em “Boa Sorte”, a história de uma Julieta e seu Romeu, tem detalhes diferentes.
Nossa Julieta tem trinta anos e sabe que vai morrer logo. Está envenenada por um virus que não consegue combater. Os remédios não fazem bem a seu corpo depauperado e belo.
Romeu aqui tem a idade certa, 17 anos e ela, apesar de mais velha do que ele, vai ser o seu primeiro e grande amor.
Tudo se passa numa clínica psiquiátrica, onde ela está internada por causa de sua dependência de drogas.
Os pais de João, o Romeu de nossa história, preocupados com sua depressão, que ele combate misturando Frontal e Fanta Laranja, resolvem interná-lo na mesma clínica em que a avó excêntrica de Judite (Fernanda Montenegro, sempre o máximo), colocou a nossa Julieta.
Aliás as drogas, leves ou pesadas, são presença na vida de todos os personagens de “Boa Sorte”. Essa é uma pergunta que o filme faz: por que tanto remédio?
Deborah Secco teve que emagrecer onze quilos para ser Judite. Sua beleza ganhou ângulos, seu corpo perdeu curvas mas a sedução continua intacta, realçada pelo talento da atriz que se entrega com amor à personagem.
A câmara mostra o corpo dela sempre que pode e, mesmo magrinha e abatida pela doença, Judite resplandece com Deborah, com seu jeito de menina sexy que nunca perde a vontade de brincar e rir.
Já seu parceiro João (João Pedro Zappa), perdidamente apaixonado, vai viver meses, maravilhado, naquela clínica, paraiso de onde não quer sair, por causa dela.
A diretora Carolina Jabor, 39 anos, casada com Guel Arraes, também diretor e filha de Arnaldo Jabor, em seu primeiro longa de ficção, nos envolve com essa história de amor.
Com delicadeza, ela vai mostrando as cenas que, muitas vêzes, parecem sonhos. Amorosos mas também divertidos. Seus personagens não são amantes trágicos.
O roteiro de Jorge e Pedro Furtado é leve e jovem, apesar do tema dramático. Baseia-se num conto de Jorge Furtado “Frontal com Fanta”.
E as ilustrações de Rita Wainer são deliciosas.
“Boa Sorte” comove na medida certa. Não tem tristeza de mais nem de menos.
Vemos na tela a vida, com os elementos que não devem faltar para ela ter sentido: amor e sofrimento que leva a crescimento.
E saímos do cinema pensando nisso, ao som de Caetano Veloso, sempre um precioso detalhe a mais.


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