Direção: Christopher Nolan
O personagem principal de “Interestelar” lembra Ulisses,
o herói grego, no espaço. Mas também lembra o drama dos primeiros homens saindo
de suas terras natais, nômades, em busca de um lugar melhor para viver. Pensamos
nos vikings em seus barcos, lutando por novas conquistas, nos navegantes
portugueses querendo chegar às Índias. E, assim por diante. A história da
humanidade foi escrita por pioneiros, homens que ousaram sair de casa e tentaram
voltar com boas ou más novas.
Em “Interestelar” o mundo está fadado à extinção. A
poeira tudo invade. Voltamos à condição de um povo que vive do que planta mas
grandes tempestades de areia ameaçam os homens e o fogo toma conta das
plantações.
Cooper (Mattew McConaughey, ótimo), um fazendeiro que já
tinha sido piloto da NASA, pai de Tom de 15 anos e de Murph, uma menina
inteligente e curiosa de 10 anos, é chamado pelo professor Brand (Michael Caine,
sempre convincente), para comandar uma missão destinada a encontrar um lugar
para ser o novo lar da humanidade.
Vai com ele, Amélia (Anne Hattaway), filha do cientista,
que faz assim a vontade do pai.
Para Cooper, entretanto, é muito difícil deixar a
família e ele promete à filha (Mackenzie Foy quando criança e Jessica Chastain
como adulta, duas atrizes competentes) que vai voltar.
O visual de “Interestelar” tem algo de “O Mágico de
Oz”1939, dá uma piscadela para os velhos seriados da TV em preto e branco como
“Star Trek – Jornada nas Estrelas”, inspira-se em “2001 – Uma Odisseia no
Espaço” 1968, de Stanley Kubrik e “Solaris”1972, de Andrei Tarkovski e tem
coisas de “Gravidade”2013, de Alfonso Cuarón.
Mas “Interestelar” tem vida própria e será lembrado
pelas magníficas cenas no espaço, filmadas em cenários, sem recorrer aos efeitos
do “chroma-key”, por outras ainda, nos planetas desconhecidos onde ondas do
tamanho de montanhas causam mais medo que mil tsunamis e colinas geladas são
geleiras sem fim (filmadas na Islândia). Ousa mesmo entrar num buraco-negro,
onde Cooper vive uma situação exposta pela Física contemporânea, comunicando-se
através de uma dobra no tempo/espaço e contrariando o que vulgarmente pensamos
sobre o universo em que vivemos e provando que o amor é a maior força
conhecida.
É longo, reclamam alguns. É difícil de entender,
murmuram outros.
Mas não será assim para quem sente palpitar em sua alma
aquela fagulha que levou a humanidade a sobreviver e progredir. E será comovente
para quem sente no coração uma ternura pelo pai que ama a filha da maneira como
Cooper ama Murph.
Christopher Nolan, 44 anos, que dirigiu “Inception - A
Origem”2010 e a trilogia Batman, escreveu o roteiro com seu irmão Jonathan e
mais uma vez encanta a quem é fascinado pelo cinema.
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