“O Último Concerto”- “The Late Quartet”, Estados Unidos,
201
Direção: Yaron Zilberman
Você gosta de música clássica? A pergunta aponta para o
aparente tema principal do filme, se formos conduzidos pelo título da tradução
brasileira, mas “O Último Concerto” tem bem mais que só
música.
O interessante é a história que foca os músicos de um
quarteto. Veremos como a vida pessoal tem a ver com o que acontece num conjunto
musical, “A Fuga”, quarteto de cordas de renome internacional, formado há já 25
anos, quando começa o filme.
Estão no palco e vão começar um concerto e ainda não
sabemos nada sobre eles. Nesse começo, são apenas atores conhecidos
representando músicos.
Christopher Walken (que está estupendo) é o
violoncelista, o mais velho do grupo, Catherine Keener, que olha para ele com um
meio sorriso é quem toca a viola, Philip Seymour Hoffman (em uma de suas últimas
aparições no cinema) é o segundo violino e Mark Ivanir, o menos conhecido dos
atores, é o primeiro violino.
Mas logo, o diretor e co-roteirista Yaron Zilberman, que
veio do documentário e faz seu primeiro longa de ficção, vai mostrando a vida
pessoal desses músicos, que se tornam personagens convincentes. E somos levados
a compartilhar o drama central daquele quarteto que pode estar morrendo. Por
isso chamado “late” no título original, “The Late
Quartet”.
Peter, que é o centro de equilíbrio do quarteto,
descobre que tem a doença de Parkinson, que começa a mostrar seus sinais. Ele
tem dificuldade em fazer os movimentos necessários para a execução perfeita da
música no violoncelo.Terá que ser substituído após o último concerto do
quarteto. Isso cai como uma bomba sobre os demais
músicos.
Numa cena com seus alunos, Peter cita versos de T. S.
Eliot de “Four Quartets”, em que o poeta fala sobre o tempo e
conclui:
“- Tudo está sempre contido no agora, o passado e o
futuro.”
Ele, que sabe que seu fim está próximo, comenta com os
alunos sobre os últimos quartetos compostos por Beethoven, especialmente o opus
131, que “A Fuga” vai apresentar no último concerto e está ensaiando. E conta
como essa peça tem uma particularidade. Tem sete movimentos e não os quatro
habituais e é para ser tocada sem pausa, costumeira para a afinação dos
instrumentos.
“- O que será que Beethoven queria nos comunicar com
essa maneira diferente de tocar que ele impõe? Estava chamando a nossa atenção
para o fato de que todos os acontecimentos da vida estão conectados? Surdo e
sentindo que estava próximo do fim, não podia parar? Não podia perder tempo? Não
sei... Mas o que todos sabemos é que os instrumentos desafinam quando são
tocados. Tocar sete movimentos sem parar é um desafio. Temos que nos adaptar uns
aos outros, mesmo desafinados...”
E o que vale para o opus 131 sendo tocado no palco, vale
também para a vida desse quarteto e os dramas que são vividos por eles. Estão
todos no mesmo barco. Precisam ser solidários portanto, mas quando soa a hora da
mudança, o medo se instala e todos ficam assustados, reagindo cada um de uma
maneira.
Entretanto, mesmo desafinados com os desafios da vida, é
preciso continuar. E é sobre isso que trata o filme.
“O Último Concerto” é sensível, tem atores excelentes,
bela música (trilha sonora do famoso Angelo Badalamenti) e muito material para
reflexão.
É um filme para quem gosta de música e de pensar sobre a
natureza humana.
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