38ª Mostra Internacional de Cinema de São
Paulo
Direção: Bennett Miller
A caça à raposa, “esporte” tradicional dos inglêses, é
uma farsa. A pobre criatura, perseguida pelos cães que a farejam e os cavaleiros
que atiram para matar e divertir-se, é solta de seu cativeiro um pouco antes da
caçada começar. Ela está destinada à morte certa.
Quando vemos o filme de época em preto e branco, que
passa antes dos créditos, mostrar claramente o que acontece com a raposa,
passamos a temer pela vida de uma vítima no filme
“Foxcatcher”.
Acontece que o milionário americano John du Pont (Steve
Carell, assombroso) sonha em ter um time de luta-livre ou luta greco-romana,
para ganhar uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Seul em
1988.
Ele se considera um patriota, herdeiro legítimo de sua
família que vendia munição ao exército americano desde o início do século vinte,
a maior indústria química do mundo.
Em sua propriedade “Foxcatcher”, onde imperam os cavalos
puro-sangue da matriarca (interpretada com corpo retorcido e olhos penetrantes,
por Vanessa Redgrave, atriz imensa), o filho quer treinar um time liderado pelos
irmãos Schultz, Dave e Mark (Mark Ruffalo, sempre competente e Channing Tatum
surpreendente), ganhadores da medalha de ouro em 1984 nas Olmpíadas de Los
Angeles.
Só que Dave, o irmão mais velho e treinador de Mark, não
está disponível para se mudar com a família para Delaware. Bem que o milionário
tenta trazê-lo. Mas só Mark aceita o convite.
O irmão mais novo está decadente, vivendo de sanduíches,
numa casa acanhada, dando palestras por tostões em escolas da região. Para Mark,
o chamado de John du Pont é a chance de tirar o pé da
lama.
Mal sabe ele onde está se
metendo.
De temperamento depressivo, auto-destrutivo, inseguro,
ele embarca com gosto na vida que o milionário oferece como acompanhante de
luxo, com total submissão a seu “pai, mentor e treinador” como John gosta de ser
visto, com os apelidos de “águia e águia dourada”.
O bonitão Mark, ingênuo e necessitado de alguém que o
use como um marionete, é argila nas mãos cruéis de John, que tenta agradar à
mãe, que não esconde seu desprezo pelo filho.
A sexualidade doentia de John, combinada com bebida e
drogas, dá vazão a uma crescente psicose.
Quando Dave entra em cena, o trio está completo para a
encenação da tragédia.
Bennett Miller dirige o filme com talento, criando um
clima de tensão desde o primeiro minuto. Seus magníficos atores interpretam com
brilho a história, baseada em fatos reais, mas nem tão conhecida assim por aqui,
como faz supor o título em português.
É uma encenação de arrepiar. O John du Pont de Steve
Carell dá medo. O ator está irreconhecível. Ele encarna o milionário como alguém
à procura de seu trágico destino.
Prêmio de melhor direção no Festival de Cannes desse
ano, “Foxcatcher” é um filme para alguns Oscars.
Podem apostar.
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