“O Juiz”- “The Judge”, Estados Unidos,
2014
Direção: David Dobkin
Filmes que mostram relações familiares conturbadas,
geralmente emocionam a plateia que se identifica com os personagens. Quando o
caso é entre o filho, o advogado Hank Palmer (Robert Downey Jr), e o pai, o juiz
Joseph Palmer (Robert Duvall), a trama poderia ser o de menos. Sabemos que
haverá reconciliação e lágrimas no final.
Mas “O Juiz” surpreende porque a narrativa é menos óbvia
do que em outos filmes do gênero, já que as relações afetivas entre pai e filho
são gélidas por motivos que não ficam claros desde o início. Vamos nos
envolvendo aos poucos com as revelações surpreendentes e os
“flash-backs”oportunos.
Hank Palmer é um advogado tão brilhante quanto
arrogante, que só defende culpados endinheirados e não se acanha nem um pouco
com isso:
“- Inocentes nunca tem dinheiro suficiente para me
contratar”, diz com todas as letras para o promotor que o questiona,
acrescentando que tem uma Ferrari na garagem e uma bonita esposa esperando por
ele.
Bem, a Ferrari pode ser mas a mulher está pedindo o
divórcio e a guarda da filha única do casal.
Quando ele recebe um telefonema em pleno tribunal e pede
ao juiz um adiamento, o promotor pensa que ele está mentindo quando noticia que
sua mãe morreu naquela manhã:
“- Aqui está a mensagem gravada” diz Palmer, passando o
celular para o Juiz.
Parece que ele não mede esforços para mentir e forjar
situações duvidosas, mas dessa vez é verdade. Ele vai ter que voltar para casa e
enfrentar o que evita há 20 anos. Seu pai.
Robert Duvall, que já ganhou um Oscar em 1984 por “A
Força do Carinho”, provávelmente será indicado novamente. Aos 83 anos, seu juiz
é a melhor coisa do filme. Ele comove sem apelações.
Bons momentos passam-se também no tribunal da
cidadezinha onde o Juiz, pai de Hank, viveu a vida toda e é um cidadão
respeitado.
O filho vai ter que duelar com o promotor (Billy Bob
Thorton, sempre ótimo), quando o pai é acusado de um crime. É em tribunais que o
advogado Hank sente-se mais à vontade, mas mesmo assim, vai ser difícil atuar
como faz em Chicago, porque o passado que vem à tona, o incomoda e mexe com sua
carência afetiva, que ele esconde sempre através de uma auto-suficiência
enganosa e defensiva.
Os irmãos de Hank, o mais velho (Vincent D’Onofrio) e o
mais novo, mostram também seus ressentimentos com o irmão mais bem sucedido,
enquanto eles ficaram para trás, vivendo uma vida
modesta.
Vera Farmiga, boa atriz, faz a antiga namorada que Hank
vai reencontrar. Algo bom em seu passado na cidadezinha
natal.
“O Juiz”, um filme comercial com qualidades, brilha mais
pelas atuações do que pela história baseada num livro de John Grisham. Mas não é
enfadonho, apesar de sua longa duração.
Vai estar no Oscar, podem
crer.
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