Direção: Anton Corbjin
Quem vai ver o filme, o último completo de Philip
Seymour Hoffmann, não consegue deixar de acompanhar o ator com um olhar
melancólico. E o personagem do agente secreto alemão, Gunther Bachmann, serve
como uma luva para lembrarmos do fim trágico que o ator escolheu, aos 46 anos,
em fevereiro último.
Quando o vemos com um andar molenga, quase que se
arrastando, respirando mal, percebemos, de repente, que a alma dele pesava mais
que o corpo volumoso. O olhar é longínquo, o passo é lento, ele procura ficar
sózinho.
Há uma culpa escondida, uma indignação consigo mesmo,
que não deixamos de notar.
Seu agente Gunther faz Philip fumar o tempo inteiro,
beber e, principalmente calar o que o torna um homem triste e decepcionado com o
mundo. Porque há nele uma fragilidade inegável. Misturam-se assim as figuras do
ator e do personagem e somos tentados a adivinhar o que o levou ao suicídio.
Tentativa vã de entender o ator através de pistas que ele deixa em seu
personagem.
Dito isto, “O Homem Mais Procurado” é um filme de
suspense político um pouco diferente dos outros. Baseado no livro de John Le
Carré, tenta passar uma visão menos simplista sobre o que significa, hoje em
dia, haver o mundo de lá, o Islã, contra o qual se arma o Ocidente, o mundo de
cá.
O livro baseia-se em fatos reais acontecidos na
Alemanha, quando o cidadão turco Murat Kumaz, residente legal, é preso por
autoridades americanas, com o beneplácito do governo alemão e é levado para a
prisão de Kandahar, no Afeganistão e depois para a base de Guantânamo, onde
ficou por cinco anos, sem nenhuma acusação legal. Kumaz foi libertado em 2006,
depois do escândalo internacional vir a público.
Em “O Homem Mais Procurado”, nos deparamos com dois
personagens que não querem causar morte nem destruição mas são muçulmanos: o
maltratado Issa Karpov, um homem com problemas íntimos insolúveis com o pai
russo e a mãe chechena e Jamal, o filho que não pensa como seu pai. O agente
alemão e uma advogada idealista (Rachel McAdams) tentam ajudar esses suspeitos,
que se envolvem com possível financiamento de
terrorismo.
A CIA, personificada na agente de Robin Wright, diz que
quer fazer do mundo um lugar mais seguro e, por isso, prende pessoas sem muito
questionamento e sem piedade.
A agência clandestina alemã de Gunther, que age fora da
lei, ironicamente tem os mesmos objetivos alegados pela CIA, mas tenta ser mais
cuidadosa, dialogando com os suspeitos, com uma postura mais
humanitária.
E nós saímos do cinema perguntando: qual é a saída para
esse problema? Haverá uma saída? Uma maneira menos injusta de conviver e aceitar
diferenças que, por si só, não podem condenar ninguém como sendo sempre o
inimigo? Ou não há tempo para isso e, para salvar inocentes, outros inocentes
vão ter que sofrer?
O filme leva a pensar nesse impasse tão contemporâneo.
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