segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O Homem Mais Procurado



“O Homem Mais Procurado”- “The Most Wanted Man”, Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha, 2014
Direção: Anton Corbjin

Quem vai ver o filme, o último completo de Philip Seymour Hoffmann, não consegue deixar de acompanhar o ator com um olhar melancólico. E o personagem do agente secreto alemão, Gunther Bachmann, serve como uma luva para lembrarmos do fim trágico que o ator escolheu, aos 46 anos, em fevereiro último.
Quando o vemos com um andar molenga, quase que se arrastando, respirando mal, percebemos, de repente, que a alma dele pesava mais que o corpo volumoso. O olhar é longínquo, o passo é lento, ele procura ficar sózinho.
Há uma culpa escondida, uma indignação consigo mesmo, que não deixamos de notar.
Seu agente Gunther faz Philip fumar o tempo inteiro, beber e, principalmente calar o que o torna um homem triste e decepcionado com o mundo. Porque há nele uma fragilidade inegável. Misturam-se assim as figuras do ator e do personagem e somos tentados a adivinhar o que o levou ao suicídio. Tentativa vã de entender o ator através de pistas que ele deixa em seu personagem.
Dito isto, “O Homem Mais Procurado” é um filme de suspense político um pouco diferente dos outros. Baseado no livro de John Le Carré, tenta passar uma visão menos simplista sobre o que significa, hoje em dia, haver o mundo de lá, o Islã, contra o qual se arma o Ocidente, o mundo de cá.
O livro baseia-se em fatos reais acontecidos na Alemanha, quando o cidadão turco Murat Kumaz, residente legal, é preso por autoridades americanas, com o beneplácito do governo alemão e é levado para a prisão de Kandahar, no Afeganistão e depois para a base de Guantânamo, onde ficou por cinco anos, sem nenhuma acusação legal. Kumaz foi libertado em 2006, depois do escândalo internacional vir a público.
Em “O Homem Mais Procurado”, nos deparamos com dois personagens que não querem causar morte nem destruição mas são muçulmanos: o maltratado Issa Karpov, um homem com problemas íntimos insolúveis com o pai russo e a mãe chechena e Jamal, o filho que não pensa como seu pai. O agente alemão e uma advogada idealista (Rachel McAdams) tentam ajudar esses suspeitos, que se envolvem com possível financiamento de terrorismo.
A CIA, personificada na agente de Robin Wright, diz que quer fazer do mundo um lugar mais seguro e, por isso, prende pessoas sem muito questionamento e sem piedade.
A agência clandestina alemã de Gunther, que age fora da lei, ironicamente tem os mesmos objetivos alegados pela CIA, mas tenta ser mais cuidadosa, dialogando com os suspeitos, com uma postura mais humanitária.
E nós saímos do cinema perguntando: qual é a saída para esse problema? Haverá uma saída? Uma maneira menos injusta de conviver e aceitar diferenças que, por si só, não podem condenar ninguém como sendo sempre o inimigo? Ou não há tempo para isso e, para salvar inocentes, outros inocentes vão ter que sofrer?
O filme leva a pensar nesse impasse tão contemporâneo. 

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