Direção: David Fincher
Sabe aqueles filmes com reviravoltas inesperadas? Eles
prendem mesmo nossa atenção e, portanto, não se via nenhum celular sendo
digitado durante “Garota Exemplar”.
O roteiro mexe com nossas fantasias paranoicas que
abalam a confiança no outro. Como entregar-se a alguém sem medo, sem esperar que
o pior aconteça?
O livro que deu origem ao roteiro, de Gillian
Flynn, (“Garota Exemplar” Ed.
Intrínseca), já pedia mais, sempre mais do leitor. Era muito difícil largar o
livro e tirar a história da cabeça. Foi a autora do best-seller que escreveu o
roteiro e o diretor sabia bem o que estava fazendo quando a escolheu. Porque
David Fincher gostou do livro.
O diretor de “Seven – Os Sete Pecados Capitais”1995,
“Zodíaco”2007, “Millenium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres”2010, tem
sempre em seus filmes o elemento surpresa, a dúvida, como o grande motivador da
narrativa. Assim, todo mundo tem um esqueleto guardado no armário, como dizem os
ingleses. Quem é totalmente inocente?
Na primeira cena, Amy (Rosamund Pike, perfeita no papel)
aparece de costas e vai virando a cabeça em “close” e câmara lenta, com um olhar
entre o sedutor e o questionador, enquanto Nick Dunne, o marido (Ben Affleck,
inspirado), fala em “off”:
“- Quando penso em minha mulher, sempre imagino sua
linda cabeça buscando respostas sobre o que aconteceu com o nosso
casamento.”
Logo depois, ele está no bar bebendo às 10 e meia da
manhã e conversando com a irmã gêmea (Carrie Con):
“- Estou num dia ruim. É nosso quinto aniversário de
casamento e não tenho presente para Amy...”
Mas, quando ele volta para casa e vê o gato deles na
rua, pega o bichano no colo e entra chamando a mulher, preocupado e logo liga
para a polícia, quando vê sinais de luta na sala, móveis revirados e cacos de
vidro por todo o lado.
Amy, que era filha do casal que escrevera livros
infantís com ela como personagem, “Amazing Amy”, tinha diploma de Harvard, era
uma esposa perfeita e sumira sem deixar vestígios, a não ser os que a detetive
da polícia (Kim Dickens) vai encontrando.
Quando os pais dela fazem um ”show” com a história do
desaparecimento e um programa de TV parece achar que o suspeito só pode ser o
marido, a imprensa, os vizinhos e os fãs de “Amazing Amy” passam a pedir a
cabeça de Dick, o marido que jura inocência com apatia.
“Garota Exemplar” fala sobre as máscaras que usamos em
nossa vida social e o que acontece quando elas caem na vida privada. Aponta para
a necessidade doentia de acreditarmos em seres humanos sem jaça, que acalmam a
dificuldade de sermos sempre iguais a nós mesmos, sem trincas, sem ambiguidades,
nem desejos controversos.
“Garota Exemplar” é um suspense com
conteúdo.
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