sábado, 10 de maio de 2014

O Passado


“O Passado”- “Le Passé”, França/Itália, 2013
Direção:Asghar Farhadi

Poucas vêzes nos damos conta de que não existe um passado único. Na realidade, os passados são vários. Pois que eles sempre se ocultam nas várias subjetividades que os viveram, cada um à sua maneira.
O filme do diretor e roteirista iraniano, Asghar Farhadi, começa de forma curiosa. No aeroporto, um vidro separa um homem e uma mulher. Olham-se com familiaridade e falam sem se ouvir. Ele perdeu a mala.
No carro, fugindo da chuva e molhados, ela dá uma ré muito rápida mas freia.
- O que você está fazendo? pergunta ele, assustado.
O letreiro com o nome do filme aparece em branco no vidro do carro, na frente deles, que tornou-se negro. O limpador de pára-brisa continua funcionando no escuro.
Já se anuncia assim, um passado obscuro que será o campo de tensões entre os personagens.
Ahmad (Ali Mosaffa), iraniano, vem para a França para assinar os papéis de seu divórcio com Marie (Bérénice Bejo), francesa. Não se veêm há quatro anos. Por que se separaram? Não sabemos ainda.
Marie mora na periferia de Paris numa casa simples, com suas duas filhas, Lucie, adolescente e a pequena Léa, de um casamento anterior. Ambas adoram Ahmad.
Na casa está morando também o garoto Fouad, filho de Samir (Tahar Rahim), atual companheiro de Marie.
Estranhamente, Marie não reservou hotel para Ahmad, que não tem outra saída, senão aceitar o convite para ficar na casa dela.
Aos poucos, vamos percebendo que Ahmad incomoda mais Marie do que se poderia supor. Existe algo não resolvido entre eles.
Ela engaja o ex em seus problemas atuais, pedindo que converse com Lucie, que está estranha, sumindo de casa e esquiva com a mãe.
Os dois homens, o ex e o atual, vão ter que dividir a mesma casa e isso vai ajudar na descoberta de segredos que trarão à tona situações mal compreendidas do passado.
O filme tem camadas como uma cebola, que vai sendo descascada  e vão aparecendo coisas. Como tudo na vida, nada é simplesmente o que parece ser.
Depois do sucesso de “A Separação” 2011, que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro, além do Globo de Ouro e o Urso de Ouro em Berlim, “O Passado” vem com o mesmo tipo de construção, envolvendo a plateia na descoberta do que foi que aconteceu com os personagens. O drama de um deles é o centro de tudo.
A atriz Bérénice Bejo ganhou o prêmio de melhor atriz no último festival de Cannes, apesar de não ter sido a primeira escolha do diretor que queria Marion Cotillard para o papel. Ela está perfeita na ambiguidade sofrida de Marie.
“O Passado”é um filme que prende a atenção da plateia enquanto estuda a natureza humana frente a mentiras, silêncios e ciúmes.
Muito interessante a reflexão sobre a influência do passado em nossas vidas presentes, quando há esse convite para vasculhar as coisas passadas.

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