Direção: Bille August
Um livro pode mudar a vida de
alguém?
Depende. No caso do professor Raimund Gregorius (Jeremy
Irons, convincente), ele tem um encontro marcado com o destino, naquela manhã
chuvosa e escura, em Berna, Suiça, quando passa pela ponte que era seu caminho
até a escola, onde dava aulas de latim.
Vê uma jovem pronta para pular nas águas geladas do rio.
Grita e salta sobre ela. Os dois caem no chão molhado.
Sua pasta se abrira e os papéis se espalhavam pela rua.
Ele e a mocinha recolhem as folhas levadas pelo vento.
“- Posso ir com você?”, pergunta ela ao professor
aturdido.
E os dois seguem até a escola.
“- Sente-se”, diz ele para ela, que tira o casaco
vermelho molhado.
Mas enquanto ele distribui os trabalhos dos alunos, ela
escapa. Ele sai atrás dela, com o casaco que ela deixara para trás. Procura por
algo que identifique a jovem nos bolsos do casaco e encontra um livro escrito em
português. “O Ourives das Palavras” era o título, o autor um certo Amadeu de
Almeida Prado e fora editado em Lisboa. Um carimbo mostrava o nome de uma
livraria conhecida.
Lê uma frase a esmo:
“Se vivemos só uma parte da nossa vida interior, o que
acontece com o resto?”
Pensativo, com o livro aberto, o professor caminha até a
livraria e fica sabendo que o livro fora vendido a uma moça que procurava livros
em português, no dia anterior:
“- Ela sentou-se, leu o livro por uma hora, pagou e saiu
aflita”, conta o livreiro.
Quando manuseia o livro, cai de dentro dele uma passagem
do trem noturno para Lisboa.
“- E parte em 15 minutos”, nota o dono da
livraria.
O professor sai correndo, como se algo muito forte o
tomasse e sobe no trem já em movimento, levando o livro e o casaco vermelho da
moça.
As palavras do livro tinham mexido tão profundamente com
o professor que ele vai andar por Lisboa atrás de pistas que o levem a conhecer
a vida do autor.
Quanto mais sabe, mais procura e depara-se com a
história da ditadura de Salazar, a resistência e a polícia política, a PIDE,
conhecida por sua repressão cruel.
Descobre uma história de amor do passado e talvez uma
nova vida no presente.
O livro que foi adaptado para o filme foi escrito por um
professor de filosofia da Universidade de Berna, Peter Bieri, que usou o
pseudonimo de Pascal Mercier. O livro vendeu mais de dois milhões de
exemplares.
Bille August, 65 anos, dinamarquês, foi quem adaptou o
livro para o cinema e comandou, com competência, um elenco de grandes nomes:
Jeremy Irons, Charlotte Rampling, Bruno Ganz, Mélanie Laurent, Lena Olin e
Christopher Lee. Todos ótimos.
Falado em inglês, o filme tem um charme português e
Lisboa está linda, com seu casario ao sol, ladeiras estreitas e o Tejo de águas
que procuram o mar.
Suspense, política e romance, ingredientes de sucesso,
misturados a reflexões filosóficas interessantes, fazem com que o filme “Trem
Noturno para Lisboa” seja altamente recomendado para quem gosta de histórias
sofisticadas.
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