Direção: Woody Allen
Todo mundo conhece uma Jasmine French. Não é uma pessoa
rara num mundo no qual os valores éticos decaem e são substituidos por ambição
desmedida e egoismo.
Pior. Todo mundo tem uma Jasmine dentro de si, pronta a
eclodir, desrespeitar limites, entregar-se ao narcisismo desenfreado e
proteger-se através da cegueira, para não ter que mudar nenhum
milimetro.
Através de Jasmine, Woody Allen, o diretor, fala de
todos nós, ele inclusive, claro. Ela é humana por excelência, naquilo que a
humanidade tem de tendência à voracidade, desrespeito aos outros e
preguiça.
Por meio de “flashbacks” entendemos que Jasmine vivia na
Park Avenue, em Nova York, lugar onde moram os muito ricos e era a que melhor
recebia a elite endinheirada, na cidade ou nos Hamptons, praia chic para onde
vão os mesmos que circulavam nos seus salões na cidade.
Casada com o especulador Hal (Alec Baldwin), Jasmine era
uma flor habituada a um ambiente luxuoso. Em sua estufa, desde que tivesse tudo
o que queria, ela não via problema nos flertes do marido. Para mantê-lo,
cegava-se às suas infidelidades constantes.
E parece que também fechava o olho à maneira com que o
dinheiro chegava até eles. Fazia-se de desentendida. Até
que...
Porque um dia a casa cai e pobre daquele que não sabe o
que fazer nessa situação previsível e perigosa.
Jasmine, quebrada financeiramente e ferida em seu
narcisismo, entrega-se à loucura mansa. E engana-se mais uma vez. Pensa que vai
poder refazer sua vida, sem mudar nada em si mesma.
E lá vai ela para a casa da irmã (Sally Hawkins, ótima)
que ela evitava nos dias de luxo. Troca Nova York por São Francisco mas só para
não cruzar com os ex-amigos na situação em que está.
Cate Blanchet, 44 anos, faz uma Jasmine de cortar o
coração. Porque ela é fútil, mentirosa, egoista mas sofre demais, porque não
entende nada sobre si mesma.
A atriz australiana que já tem um Oscar de melhor atriz
coadjuvante por “O Aviador” 2004 e quatro outras indicações, pode ganhar o seu
segundo e como melhor atriz. E seria merecido porque Cate Blanchet incarna
Jasmine com alma, fazendo sua personagem sem criticá-la e emprestando a ela
beleza e elegância naturais.
Quando a vemos, falando sózinha, olhos vermelhos e
embaçados, sentada num banco de jardim público, as risadas nervosas da plateia
cedem lugar a um silêncio empático.
Esse é o grande lance do filme. Como sempre escrito pelo
próprio diretor. “Blue Jasmine” não é comédia, tampouco tragédia. É a
vida.
Woody Allen, 77 anos, em seu 40º filme acertou mais uma
vez e, de quebra, agradou também aos críticos americanos que escreveram
elogiando o filme.
Ele deve estar feliz com o resultado e já se prepara
para o próximo, com Emma Thompson.
Não perca “Blue Jasmine”, uma outra obra prima de Woody
Allen sobre a condição humana, seu assunto preferido.
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