quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Blue Jasmine


“Blue Jasmine”- Idem, Estados Unidos, 2013
Direção: Woody Allen

Todo mundo conhece uma Jasmine French. Não é uma pessoa rara num mundo no qual os valores éticos decaem e são substituidos por ambição desmedida e egoismo.
Pior. Todo mundo tem uma Jasmine dentro de si, pronta a eclodir, desrespeitar limites, entregar-se ao narcisismo desenfreado e proteger-se através da cegueira, para não ter que mudar nenhum milimetro.
Através de Jasmine, Woody Allen, o diretor, fala de todos nós, ele inclusive, claro. Ela é humana por excelência, naquilo que a humanidade tem de tendência à voracidade, desrespeito aos outros e preguiça.
Por meio de “flashbacks” entendemos que Jasmine vivia na Park Avenue, em Nova York, lugar onde moram os muito ricos e era a que melhor recebia a elite endinheirada, na cidade ou nos Hamptons, praia chic para onde vão os mesmos que circulavam nos seus salões na cidade.
Casada com o especulador Hal (Alec Baldwin), Jasmine era uma flor habituada a um ambiente luxuoso. Em sua estufa, desde que tivesse tudo o que queria, ela não via problema nos flertes do marido. Para mantê-lo, cegava-se às suas infidelidades constantes.
E parece que também fechava o olho à maneira com que o dinheiro chegava até eles. Fazia-se de desentendida. Até que...
Porque um dia a casa cai e pobre daquele que não sabe o que fazer nessa situação previsível e perigosa.
Jasmine, quebrada financeiramente e ferida em seu narcisismo, entrega-se à loucura mansa. E engana-se mais uma vez. Pensa que vai poder refazer sua vida, sem mudar nada em si mesma.
E lá vai ela para a casa da irmã (Sally Hawkins, ótima) que ela evitava nos dias de luxo. Troca Nova York por São Francisco mas só para não cruzar com os ex-amigos na situação em que está.
Cate Blanchet, 44 anos, faz uma Jasmine de cortar o coração. Porque ela é fútil, mentirosa, egoista mas sofre demais, porque não entende nada sobre si mesma.
A atriz australiana que já tem um Oscar de melhor atriz coadjuvante por “O Aviador” 2004 e quatro outras indicações, pode ganhar o seu segundo e como melhor atriz. E seria merecido porque Cate Blanchet incarna Jasmine com alma, fazendo sua personagem sem criticá-la e emprestando a ela beleza e elegância naturais.
Quando a vemos, falando sózinha, olhos vermelhos e embaçados, sentada num banco de jardim público, as risadas nervosas da plateia cedem lugar a um silêncio empático.
Esse é o grande lance do filme. Como sempre escrito pelo próprio diretor. “Blue Jasmine” não é comédia, tampouco tragédia. É a vida.
Woody Allen, 77 anos, em seu 40º filme acertou mais uma vez e, de quebra, agradou também aos críticos americanos que escreveram elogiando o filme.
Ele deve estar feliz com o resultado e já se prepara para o próximo, com Emma Thompson.
Não perca “Blue Jasmine”, uma outra obra prima de Woody Allen sobre a condição humana, seu assunto preferido.

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