domingo, 10 de novembro de 2013

Lore


“Lore”- Idem, Alemanha/Austrália/Reino Unido, 2012
Direção: Cate Shortland

Quando a australiana Cate Shortland, 45 anos, ganhou do marido o romance “Dark Room”, de Rachel Seiffert, ela soube que poderia fazer um filme original, que teria tudo a ver com a família dela e a do marido, judeus alemães que se refugiaram na Austrália em 1938.
A diretora e roteirista resolveu levar para o cinema uma das três histórias contadas no livro, a de Lore, uma alemã de 14 anos, vivendo momentos terríveis nos dias que se seguiram à vitória dos Aliados, na 2ª Guerra Mundial, em 1945.
Claro que foi um assunto difícil de encarar para uma judia. Cate Shortland sabia disso.
Então, apoiou-se em longas conversas com a autora do livro, uma alemã, que trata da repercussão do Holocausto na mente dos alemães. E ficou sabendo que era uma história real, a de Lore. Rachel Seiffert, a autora do livro, viveu isso. Seu avô era da Gestapo e foi preso por crimes de guerra.
“Lore”, a história da mocinha (Saskia Rosendahl), filha de um oficial nazista, que é abandonada pela mãe, que prefere entregar-se aos Aliados do que morrer nas mãos dos camponeses alemães e deixa os filhos com a mais velha, é comovente e terrível.
A diretora disse, em uma entrevista, que contar a história do ponto de vista dos derrotados, os alemães e não pelo olhar das vítimas, os judeus, foi muito difícil mas também recompensadora:
“- ... o que me atraiu foi realmente essa perspectiva assustadora de fazer um filme sobre os agressores ou os filhos dos agressores. E eu tive que lutar contra os meus próprios demonios e minha percepção sobre o que é a Alemanha e a minha própria raiva sobre o assunto...”
A diretora também diz, na mesma entrevista, que tentou não fazer julgamentos sobre as pessoas porque elas viviam sob o nazismo. Era natural para Lore que o pai (Hans-Jochen Wagner), a mãe (Ursina Lardi) e a avó (Eva-Maria Hagen) adorassem Hitler.
Foi preciso que algo muito forte acontecesse durante o percurso a pé de Lore com quatro crianças, uma delas um bebê de colo, desde a Bavária, no sul, atravessando a Floresta Negra e chegando ao Mar Báltico, no norte, para que ela fosse mudando e compreendendo, afinal, o que acontecera em volta dela, em seu país.
A descoberta da intensa atração por um misterioso rapaz (Kai-Peter Malina) que ajuda Lore na fuga com os irmãos, leva a mocinha a um conflito: como amar aquele que ela aprendera a desprezar e odiar?
“Lore” é um filme feito com delicadeza, com um olhar feminino sobre a vida, apesar das imagens terríveis, obrigatórias numa Alemanha destroçada, com falta de tudo que é essencial e descobrindo o horror do Holocausto, crime do nazismo, quase que uma religião para os alemães, que ainda não se davam conta do que realmente acontecera.
“Lore” é belo, terrível e original. Vá ver.

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